14/05/2014 - 16:34
A aprovação da fusão da Kroton com a Anhanguera custará, à nova empresa, entre 5% e 6% de sua receita líquida combinada. Esse é o impacto calculado pelas empresas, em termos de perda de receita, com as restrições impostas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), na reunião em que aprovou o negócio, nesta quarta-feira 14.
“As restrições resolvem os problemas com Cade e terão um impacto bastante limitado em nossa receita”, afirmou o presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, em teleconferência com analistas na tarde de hoje. Quando o acordo foi anunciado, em abril do ano passado, a receita combinada das empresas era estimada em R$ 4,3 bilhões, com base nos números de 2012.
O executivo chamou as restrições de “remédios” e afirmou que todos foram “negociados” com o Cade. O resultado foi a assinatura de um acordo de controle de concentrações (ACC). Galindo dividiu o acordo em três partes. A “estrutural” determina a venda de toda a operação de ensino à distância da Uniasselvi, além das unidades de ensino presencial das cidades catarinenses de Indaiau e Timbó. No total, essa medida afetará 74 mil alunos.
Venda disputada
Também como remédio “estrutural”, as empresas também concordaram com a venda de outros ativos. Em Cuiabá, capital do Mato Grosso, o grupo deverá vender toda a operação presencial da Anhanguera, com cerca de 1.500 alunos. Já em Rondonópolis, no mesmo estado, a Kroton deverá se desfazer de uma das duas unidades que mantém, o que significará cerca de 1.700 alunos.
Segundo Galindo, o prazo para a venda desses ativos é sigiloso. “Já recebemos algumas sondagens e já sabemos que será um processo bem competitivo”, afirmou na teleconferência. A Uniasselvi foi a segunda maior aquisição realizada pela Kroton. Em 2011, a empresa pagou R$ 510 milhões pela instituição de ensino. Naquela época, a Uniasselvi oferecia cursos à distância para mais de 73 mil alunos. Com os cursos presenciais, o total chegava a mais de 80 mil alunos. Segundo Galindo, após a venda da maior parte da Uniasselvi, restarão de 6 mil a 7 mil alunos matriculados nesta bandeira.
O segundo remédio foi chamado pelo executivo de “comportamental” e envolve a atuação do grupo em 48 cidades. Nelas, o grupo opera com duas bandeiras e haverá restrições para a captação e abertura de cursos até 2017. Uma das bandeiras restringirá as novas matrículas em determinados cursos a uma quantidade acertada com o Cade. A segunda bandeira do grupo nessas cidades não poderá oferecer o mesmo curso. “O objetivo é permitir que os concorrentes se desenvolvam”, disse Galindo.
O último grupo de medidas é de qualidade. A empresa se comprometeu a atingir 80% de mestres e doutores em seus cursos, além de formar um determinado número de mentores para os cursos à distância. “É muito importante que o Cade se preocupe com a qualidade, porque mostra que o ensino é um mercado diferenciado”, afirmou Galindo.
Novos termos
A partir de agora, a Anhanguera e a Kroton se concentrarão na aprovação do negócio por seus respectivos acionistas. As assembleias devem ocorrer nos próximos 60 dias. Convencer os acionistas também não foi uma tarefa fácil, já que a valorização da Kroton, desde o anúncio do negócio, levou-os a exigir novos termos para a troca de ações.
Inicialmente, a composição acionária final daria 42,52% de participação aos acionistas da Anhanguera e 57,48% aos da Kroton. O problema é que, desde que o negócio se tornou público, as ações da Kroton apresentaram forte alta, enquanto a Anhanguera andava de lado na Bovespa. Nos últimos 12 meses encerrados nesta segunda-feira 12, as ações ordinárias da Kroton acumulavam alta de 112,5%. Já as da Anhanguera valorizaram apenas 37%.
Isso levou os acionistas da Kroton a pressionarem a direção da empresa a rever os termos do acordo. A nova proposta de troca de ações, se aprovada, dará 66,50% do novo grupo aos investidores da Kroton; e 33,50% para os da Anhanguera.
Maior do mundo
Juntas, a Kroton e a Anhanguera teriam um valor de mercado estimado superior a R$ 12 bilhões, segundo divulgado na época do fechamento do acordo, em abril de 2013. A cifra, porém, já pode ser bem maior, pois somente a Kroton já é avaliada em mais de R$ 12 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo. Somado ao valor da Anhanguera, o grupo alcançaria cerca de R$ 18 bilhões, ou cerca de US$ 8 bilhões. Como comparação, a New Oriental, listada na bolsa de Nova York e considerada a segunda maior do mundo, é avaliada em US$ 3,8 bilhões.
Uma comparação com a rival chinesa, aliás, dá uma ideia do porte da união negociada entre a Kroton e a Anhanguera. A única métrica do grupo brasileiro que fica atrás dos chineses é o número de matrículas: 1 milhão contra 2,5 milhões. O faturamento combinado do grupo em gestação é estimado em R$ 4,3 bilhões. No exercício fiscal de 2013, encerrado em abril do ano passado para a New Oriental, a companhia apresentou receita líquida de US$ 960 milhões, cerca de R$ 2,1 bilhões. Para se ter uma ideia, é menos do que os R$ 2,5 bilhões que a Anhanguera faturou em 2012.
O lucro líquido da New Oriental, de US$ 136 milhões (cerca de R$ 301 milhões), corresponde a 72% dos R$ 420 milhões que a fusão das brasileiras deve gerar, pelas estimativas divulgadas no ano passado, com base nos números de 2012 de ambas.