Antes de ganhar o Prêmio Nobel de Economia, em 2008, Paul Krugman já era um profissional respeitado e admirado por sua capacidade de analisar e prever o cenário global. Em 2005, ao participar de um evento da BM&F em Campos do Jordão, Krugman chamou a atenção da plateia para um movimento insustentável nos preços dos imóveis nos Estados Unidos. O desfecho trágico dessa história mostrou que ele tinha razão. No entanto, quando o debate sai do centro econômico global – Estados Unidos, Europa, China e Japão – e se volta a mercados supostamente menos importantes, Krugman tem se mostrado desinformado.

 

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E pior: mesmo quando é contratado a peso de ouro para fazer palestras no Brasil, não demonstra disposição de estudar a fundo o País. Foi assim no IBM Fórum, em 2010, e, agora, no Diálogos Capitais, evento promovido na semana passada pela revista Carta Capital, em São Paulo. Quando Krugman desembarcou no Brasil em setembro de 2010, o mercado doméstico estava bombando – o PIB cresceria 7,5% naquele ano. Na ocasião, o professor da Universidade de Princeton e colunista do jornal The New York Times previu que “a economia brasileira cresceria ao ritmo de 5% nos dois ou três anos seguintes”. Na média, porém o PIB não avançou nem metade disso. 

 

Errar previsões não é exclusividade do Prêmio Nobel – afinal de contas, as ciências econômicas não são da área de exatas –, mas o americano demonstrou desconhecimento sobre o Brasil ao afirmar que o País “havia controlado os seus demônios econômicos”, a saber: inflação, política fiscal e déficit em conta-corrente. Quatro anos depois, os “demônios” rondam a economia brasileira e mancham a imagem do País no Exterior. Naquela ocasião, fiz parte de um grupo de quatro jornalistas que entrevistaram Krugman durante quase uma hora em um hotel na capital paulista. Cansado da longa viagem – ele ficaria apenas 24 horas no Brasil e já retornaria aos Estados Unidos –, o economista foi muito atencioso. 

 

Todavia, sempre que questionado sobre assuntos envolvendo a economia brasileira, admitia não ter informações suficientes para comentar. Foi assim, por exemplo, com os gastos públicos e os gargalos educacionais. Naquele momento, diante de um real valorizado, disse apenas que o câmbio apreciado “atrapalha as exportações industriais, por um lado, mas significa mais capital para investir, por outro”. Quatro anos depois, a cena se repetiu. Desta vez, contudo, Krugman foi mais cauteloso e não arriscou previsões sobre a economia brasileira. 

 

Em uma palestra de 45 minutos, na terça-feira 18, dedicou 90% da sua fala a um panorama dos países ricos e limitou-se a tecer alguns elogios ao Brasil – alguns já ditos em 2010, como, por exemplo, o fato de o País ter se saído bem na crise. “Não se justificam as preocupações com a sua economia”, afirmou. “O Brasil tem mais estabilidade, menos vulnerabilidade, inflação sob controle e uma política fiscal mais responsável.” Krugman está certo ao não comprar cegamente o discurso pessimista do mercado financeiro. Mas, neste caso, a sua análise superficial claramente decorre da falta de informações. Questionado pela plateia se haveria uma bolha imobiliária no Brasil, respondeu: “Não estudei os números do setor”. Uma postura decepcionante para um ganhador de Prêmio Nobel.