07/02/2014 - 21:00
No ponto mais alto de Porto Venere, sobre um penhasco de frente para o mar da Ligúria, na Itália, está o castelo Doria, uma fortaleza construída para fins militares cerca de mil anos atrás. De lá, descem corredores de escadas e vielas como labirintos que desvendam a pequena cidade de quase cinco mil habitantes. Não é preciso caminhar muito para chegar à rua principal. Bastam poucos minutos para pisar o chão de pedras da via Cappellini, onde italianos, bons conhecedores de suas raízes, oferecem aos turistas o que há de melhor: pasta fresca regada a azeite de oliva e molho pesto genovês. “Porto Venere é o lugar perfeito para quem busca sossego”, diz à DINHEIRO o aposentado Enzo Cesarini, morador da cidade.
É esse sossego, ao que tudo indica, que atraiu o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, foragido da Justiça brasileira desde novembro do ano passado, após ser condenado a 12 anos e sete meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por envolvimento no mensalão. Na quarta-feira 5, Pizzolato, que possui cidadania italiana e que entrou no país com um passaporte falsificado, foi detido na cidade de Maranello, onde fica a sede da Ferrari. Preso a 200 quilômetros de Porto Venere, onde se escondeu por mais tempo em uma pequena vila, Pizzolato estava na casa de um sobrinho, funcionário da charmosa montadora italiana.
“Ele deve ser uma pessoa discreta, que se expunha pouco”, afirma Cesarini. “Após os jornais noticiarem o caso, alguns vizinhos começam a se lembrar da presença do casal, que saía quase todas as noites para jantar,” diz Cesarini, referindo-se a Pizzolato e sua mulher, Andrea Haas. As vielas por onde o casal caminhava, após os jantares, são cercadas por prédios de cores vivas, com pequenas janelas verdes e vista para o oceano. Das cadeiras diante das marinas, com charmosos barcos de pescadores e imponentes iates atracados, é possível observar a vida passando lentamente na cidade da província de La Spezia, que recebe turistas interessados nas famosas Cinque Terre, cinco cidadelas encravadas nas montanhas.
O ritmo de Porto Venere só aumenta em período da alta temporada europeia. Nos demais dias, os moradores locais levam uma vida pacata. “A Riviera Italiana tem sido cada vez mais procurada pelos turistas”, afirma Olga Arima, sócia da agência de turismo de luxo Designer Tours. “Os brasileiros adoram visitar Roma, Florença, Veneza e outras cidades mais turísticas e terminar a viagem em uma praia.” A escolha de destinos com apelo turístico não é exclusividade de Henrique Pizzolato. Um caso emblemático de prisão de foragido brasileiro nos anos 1990 também se passou em um cenário digno de álbum de fotografia de viagens: a Tailândia.
Em novembro de 1993, quatro meses depois de deixar o Brasil após acusação de sonegação fiscal, Paulo César Farias, o PC Farias, foi reconhecido em Bangcoc, na Tailândia, por um empresário brasileiro, durante um jantar festivo em um hotel. Antes de ser encontrado em Bangcoc, o tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello havia passado três dias na paradisíaca Phuket, um dos destinos mais procurados no exótico país do sudeste da Ásia. Em uma das ilhas de Phuket foi filmado o longa-metragem 007 contra o Homem com a Pistola de Ouro, de 1974, estrelado pelos atores Roger Moore e Christopher Lee.
A paisagem da região é tão impressionante, com suas pedras de calcário e mar transparente, que outro filme foi gravado por ali, na ilha de Phi Phi: A Praia, de 1999, com Leonardo Di Caprio. A capital tailandesa é, atualmente, a mais visitada do mundo, à frente de Londres, Paris e Nova York, com 16 milhões de turistas por ano. Bangcoc não para e tem luxo para dar e vender. Seus melhores hotéis, como o Four Seasons, oferecem uma hospedagem sofisticada e os pratos típicos da região, que costumam misturar doce e salgado – além de muita pimenta, é claro.
Caótica, a cidade talvez não seja a mais indicada para quem quer sentir o clima sereno típico do litoral ou do interior da Tailândia, mas ainda assim está repleta de templos budistas, como o Wat Arun, e casas de massagens. Assim como Pizzolato, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola aproveitou a dupla cidadania para fugir do Brasil e viver uma vida na Itália que, digamos, passa longe do sofrimento de um encarcerado. Condenado à prisão em 2000 por gestão fraudulenta, corrupção passiva e desvio de dinheiro público, o dono do extinto banco Marka viveu por sete anos em Roma, palco da obra-prima La Dolce Vita, de Federico Fellini.
O problema foi quando Cacciola resolveu curtir o glamour de Mônaco. Lá, foi preso pela Interpol e extraditado para o Brasil. Banhado pela Côte d’Azur, na esplêndida Riviera Francesa, o Principado de Mônaco já foi lar de outros milionários brasileiros, como o banqueiro Edmond Safra (falecido em 1999) e o apresentador Galvão Bueno. Também pudera. A cidade respira luxo, com marinas repletas de iates, carros superesportivos em suas ruas sinuosas, mulheres desfilando a última coleção da Louis Vuitton, casinos e restaurantes cheios de pompa. Se é para fugir, ou ser preso, que seja em grande estilo.
Leia também: