04/12/2017 - 18:30
Às 13h18, um rapaz de camiseta vermelha, bermuda e boné virado para trás aparece na portaria de um edifício na região de Moema, na zona sul de São Paulo. Ao seu lado, um menino, também de bermuda, não aparenta mais do que 10 anos. Os dois não têm dificuldade para entrar no prédio, em Moema, e subir até o 11º andar, alvo do assalto. Trinta e dois minutos depois, deixam o local carregando uma mala com mil dólares, 500 libras esterlinas, dois celulares, além de um Rolex e outros três relógios – um deles de ouro -, avaliados em cerca de R$ 140 mil, ao todo.
O roubo aconteceu na sexta-feira, dia 1º, e foi flagrado pelo circuito de segurança do prédio. No momento do crime, apenas a empregada de 31 anos estava no apartamento. Em depoimento à Polícia Civil, ela contou que, antes de ser surpreendida pela dupla, atendeu um interfone do porteiro, avisando que o filho do proprietário estava subindo com um amigo. Quando a campainha tocou, atendeu sem desconfiar. Na delegacia, disse, ainda, que havia sido contratada há cerca de três meses.
“Cadê o tio?”, perguntou um dos rapazes, sorrindo, assim que ela abriu a porta. Segundo relatou aos investigadores, a empregada imaginou que o “tio” era o engenheiro Júlio Sérgio Lopes, de 41 anos, o dono do apartamento. Respondeu, então, que ele não estava, mas, por não suspeitar de um assalto, deixou a dupla entrar.
O relato segue: o mais velho pediu um copo de água e a empregada, com os dois caminhando atrás dela, foi buscar na cozinha. Lá, o mesmo rapaz sacou uma arma de fogo, apontou para a cabeça da vítima e anunciou o roubo.
Rendida, a empregada foi levada para o principal quarto do apartamento. O rapaz e a criança usaram cadarços para amarrar os pés e as mãos da vítima. Segundo o relato no 96.º Distrito Policial (Cidade Monções), delegacia responsável por investigar o caso, os bandidos perguntavam a toda hora onde estava escondido o cofre da casa. Ela teria respondido que não sabia.
Presa no cômodo, a vítima conseguia ouvir os assaltantes revirando o apartamento. No armário de Lopes, os criminosos encontraram joias. Também acharam talões de cheques antigos e cartões de banco. Enfim, localizaram o cofre, que foi arrancado da parede com ajuda de uma barra de ferro e posto dentro da mala.
Na delegacia, a empregada contou que a dupla falava no celular com alguém que seria um terceiro suspeito. A ele, teriam dito que “renderam o porteiro” e que o prédio “estava tomado”. Antes de deixar o local, os dois ainda trancaram a empregada em um escritório.
Da mesma forma que entraram, os criminosos saíram: sem ser abordados por ninguém do prédio. Gravações de câmeras de segurança mostram que o menino carregava uma arma de brinquedo e um ursinho de pelúcia, ao descer no elevador após o assalto.
Ao notar que estava sozinha, a empregada usou os dentes para soltar as amarras e, por uma janela, gritou por ajuda. Um vizinho chamou a Polícia Militar. Como a vítima estava sem as chaves, os agentes precisaram arrombar a porta.
Susto
“Ela estava muito assustada, chorando desesperada”, conta Lopes, que estava no trabalho na hora em que o apartamento, onde mora há seis anos, foi invadido. Foram os policiais que avisaram do assalto. Segundo conta, entre os relógios roubados havia um da marca Patek Philippe, que pertenceu ao seu avô e tinha mais de 50 anos. “O prejuízo maior é o susto de alguém entrar na minha casa e revirar tudo.”
Segundo o boletim de ocorrência, os investigadores solicitaram perícia no local. O objetivo é tentar encontrar impressões digitais que ajudem a identificar os suspeitos.
“Duas crianças entram no meu prédio, tomam a minha casa, rendem a empregada, arrebentam a casa inteira… Não dá para ter sossego nenhum”, afirmou o proprietário do apartamento, à reportagem. “A segurança é muito ruim. Não é só São Paulo, é o Brasil inteiro. Um caos.”