13/07/2011 - 21:00
Ela se diz especialmente preocupada com a avalanche de dólares que chega ao País. Volta a recitar a velha cartilha de fantasmas: fala que o Brasil pode enfrentar desequilíbrios e que nessa toada, de câmbio defasado, corre o risco de superaquecimento e inflação. Lagarde precisa de dólares – alguns bilhões de dólares – para sanear as contas de países europeus à beira da quebradeira geral. Lagarde, por isso mesmo, não está gostando nada do fluxo intenso de dinheiro para os países emergentes como o Brasil. Na essência, é essa a maior preocupação da nova chefona do Fundo. Ela espera que a rota dos investimentos estrangeiros siga de novo para o Velho Continente.
Não vai conseguir por motivos óbvios. Lagarde é uma francesa que foi colocada ali justamente para defender os interesses da região. Quer garantir a todo custo uma sobrevida para o Mercado Comum e não há outra maneira de fazê-lo que não seja com os recursos de americanos e asiáticos benevolentes, dispostos a jogar recursos a fundo perdido. O FMI, que há muito tempo se transformou em feudo dos europeus, não possui hoje capital suficiente para a empreitada. Os bancos de fomento estão emprestando a quem pode pagar – de preferência com uma boa taxa de juros que remunere com lucro o montante empatado.
Em vez de lançar mensagens de alerta ao Brasil, com intenções veladas, Lagarde poderia desde a saída se ocupar mais de mostrar um plano sustentável para o enrosco da Grécia e, por tabela, para os vizinhos que seguem a mesma sina de um futuro sombrio. O problema do FMI, que tradicionalmente erra mais previsão que analista do tempo, é o seu hábito de querer estabelecer o que é certo e o que é errado para as economias, não enxergando um palmo adiante das características de cada mercado e de como eles estão evoluindo. É hora de mudar a instituição, e a nova diretora-gerente prestaria um grande serviço ao mundo se começasse essa transformação cultural do FMI.