NÃO BASTA SABER COZINHAR, É preciso ter os ingredientes certos e as ferramentas adequadas para preparar o prato ideal. Afinal, mais do que nunca, a tecnologia passou a ser crucial na alta gastronomia. Magos da culinária como o catalão Ferran Adrià, por exemplo, usam até nitrogênio para extrair o sabor de alguns alimentos. Mas não são apenas os equipamentos de ponta que têm ganhado destaque na cozinha. As facas, utensílios triviais usados no dia-a-dia, também conquistaram a atenção dos gourmets. O alemão Peter Herweck que o diga. Responsável no País pelas operações da Zwilling J. A. Henckels AG, empresa alemã que fatura 270 milhões de euros por ano vendendo facas, utensílios domésticos e cutelaria, ele tem ambiciosos planos para a empresa no Brasil. Depois de abrir uma loja no shopping Bourbon, em São Paulo, a marca se prepara para expandir sua atuação. “Abriremos o maior ponto-devenda da Zwilling no mundo, na rua Oscar Freire, na capital paulista, no final de outubro”, anuncia Herweck. A loja, diz o executivo, terá 320 metros quadrados. “Até o final de 2009 serão inaugurados mais três pontos espalhados por São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas”, completa.

No Brasil, a Zwilling adotará a mesma estratégia de distribuição aplicada nos 100 países onde atua. Atualmente, as vendas são divididas entre as 218 lojas próprias e 4.176 pontos multimarcas. “Aqui faremos o mesmo. Começaremos com 30 lojas multimarcas e até o final de 2009 estaremos em 100 pontos-de-venda”, prevê o executivo. “Os locais serão escolhidos a dedo”, explica. Isso se deve, principalmente, ao perfil dos produtos vendidos pela empresa. É possível encontrar desde uma lixa de unha que custa R$ 75 até um jogo de facas que sai por R$ 12 mil. O que as torna tão caras? A linha de facas Twin 1731, por exemplo, produzida em homenagem aos 277 anos de fundação da companhia, é fabricada com o mesmo tipo de aço utilizado em foguetes espaciais. Para levar um jogo com cinco facas para casa o cliente tem de desembolsar cerca de R$ 11 mil. “Nesse caso, a tradição é um fator importante na decisão de compra do consumidor”, analisa Fernando Sganga, diretor de estratégia de marca do GAD’ Branding & Design.

Tradição, entretanto, não garante sucesso entre os clientes. “A qualidade da lâmina é fundamental para não danificar os alimentos na hora de preparar um prato mais sofisticado”, descreve Morena Leite, chef de cozinha e dona da rede de restaurantes Capim Santo, com filiais em São Paulo e Trancoso, na Bahia. Para conquistar esse tipo de reconhecimento no mercado mundial de acessórios para cozinha, a Zwilling passou por uma revolução há cerca de oito anos e iniciou um processo de aquisições. Comprou a francesa Staub, voltada à fabricação de panelas de ferro, a belga Demeyere, especializada em panelas de alumínio, e a Myabi, companhia japonesa dedicada à produção de facas que utilizam o mesmo material usado nas espadas dos antigos samurais. “Investiremos mais 1,8 bilhão de euros na aquisição de outras companhias ligadas ao nosso ramo”, destaca Peter Herweck. “Trata-se de um modelo de gestão complexo que, para dar certo, deve ter sinergia entre as marcas para não perder o foco”, alerta Sganga, do GAD’ Branding & Design.