A pequena ilha italiana de Lampedusa, a mais próxima da costa da Líbia, recebeu centenas de milhares de migrantes durante os últimos 25 anos, um fluxo inconstante, mas que a transformou na principal porta de entrada na Europa.

– 1990/2000 –

Foi a década das primeiras chegadas à ilha de migrantes que sonhavam com a Europa. Em 1990 desembarcaram centenas de pessoas. O fluxo aumentou para milhares durante uma década, até o ano 2000.

Um acordo assinado em 2008 entre Silvio Berlusconi e o líder líbio Muamar Khadafi impediu as saídas da Líbia.

– 2011 – A Primavera Árabe –

Com as revoltas na Tunísia e na Líbia, a chamada Primavera Árabe, a chegada de imigrantes à ilha se tornou mais intensa. Mais de 47.000 desembarcaram, metade tunisianos, que aproveitaram a oportunidade de entrar na Europa após a queda de Ben Ali. Os demais procediam da África subsaariana ou trabalhavam na Líbia. Os migrantes acampavam ao ar livre durante semanas, antes de serem levados para a Sicília.

– 2013 – O papa e o naufrágio –

Em julho, o recém-eleito papa Francisco fez sua primeira viagem dentro da Itália a Lampedusa para denunciar “a globalização da indiferença” em relação aos migrantes. Poucos meses depois, em 3 de outubro, um barco sofreu um incêndio quando os migrantes sem documentos decidiram criar uma pequena fogueira a bordo para permitir sua localização, depois que três pesqueiros negaram ajuda.

As chamas provocaram pânico e o barco sobrecarregado terminou virando. O naufrágio matou 366 pessoas, a maioria eritreus. Com o auxílio de pescadores, socorristas e mergulhadores, 155 sobreviveram à tragédia. As imagens dos caixões alinhados em um hangar comoveram o mundo.

– 2014-2017 – Os socorristas –

Após a tragédia de Lampedusa, várias operações de emergência foram organizadas. As autoridades temiam casos similares. O governo italiano, a União Europeia e ONGs resgataram milhares de migrantes na costa da Líbia e os levaram diretamente para os portos da Sicília. As chegada viram praticamente um êxodo na direção da Itália: 600.000 pessoas entre 2014 e o verão de 2017. A ilha deixa de ser protagonista do fenômeno.

– 2017, o ano do bloqueio –

A partir de julho de 2017 as saídas a partir da Líbia registram uma desaceleração, após os polêmicos acordos entre Itália e Líbia assinados pelo governo de centro-esquerda. Uma campanha contra ação das embarcações das ONGs no Mediterrâneo atinge o ponto máximo em 2018 com o bloqueio de todos os portos por ordem do novo ministro do Interior, o político de extrema-direita Matteo Salvini. A Itália impede o desembarque de migrantes e encerra as operações de socorro no Mediterrâneo, incluindo as militares.

Começam novamente a chegar pequenas embarcações a Lampedusa, em sua maioria procedentes da Tunísia, algumas da Líbia.