20/06/2018 - 15:05
Anote esta sigla: STO.
Se esta é a primeira vez que se depara com ela, não precisa se considerar desinformado. Security Token Offerings é seu significado e, pode apostar, você ainda vai ouvir falar muito nestas 3 letrinhas, que passaram a se tornar mais frequentes nas rodinhas de Wall Street depois da explosão nos últimos anos dos ICOs (Initial Coin Offerings).
Somente nos 3 primeiros meses deste ano, a CoinDesk informou que foram levantados US$ 6,3 bilhões através de ICOs (mais do que em 2017 todo, quando somou US$ 5,6 bilhões), uma nova modalidade de crowdfunding que permite a qualquer negócio lançar criptomoedas próprias e transacioná-las em troca, no futuro, de benefícios e serviços exclusivos, como em programas de fidelização.
As moedas virtuais criadas pelas empresas são compradas em plataformas de blockchain com as criptomoedas mais comuns, especialmente Bitcoin e Ethereum, ou até mesmo em dólares.
Em outras palavras, o ICO possibilitou que qualquer boa ideia possa ser financiada com a oferta de crypto coins, o que acabou levando a um tsunami de emissões no mercado financeiro americano e desvendou duas faces de uma mesma moeda para investidores até hoje acostumados a negociar papéis tradicionais.
De um lado, os ICOs abriram uma nova frente bem menos burocrática e custosa para viabilizar as primeiras rodadas de capital, cada vez mais escassas no ecossistema de Venture Capital ou via oferta de ações. Por outro, também trouxeram riscos aos investidores por não oferecerem garantias palpáveis, já que, na prática, as moedas digitais não são ações das empresas e quem as comprou não terá nada a receber no caso da empresa fechar as portas (nem mesmo garantia de voto).
O grande interesse pelo ICO nos Estados Unidos chamou a atenção da SEC (Securities and Exchange Commission), que acendeu o sinal de alerta para necessidade de sua regulamentação aos mesmos moldes dos critérios exigidos para um IPO a fim de evitar o crescimento de fraudes.
E é aí que entra o STO, “uma variação da sigla IPO” que inaugura um novo e promissor mercado com potencial de alcançar US$ 10 trihões (!) em 2020, segundo especialistas do mercado. A boa notícia é que as empresas candidatas ao lançamento de security tokens são obrigadas a seguir o mesmo processo para ofertar ações na Bolsa. Ou seja, os investidores compram tokens que estão atrelados a ações ou ativos da empresa, garantindo assim uma fatia do negócio e, consequentemente, que poderão ter ganhos de dividendos e não correrão o risco de ficar a ver navios no caso da empresa não performar como esperado.
A grande revolução dos tokens como fontes de financiamento está na democratização do acesso ao capital. Empresas que jamais pensaram em fazer um IPO irão encontrar no STO um caminho mais rápido e dentro das regras para buscar recursos e trazer liquidez aos seus ativos atraindo investidores que decidirem diversificar seus investimentos colocando parte do capital em negócios inovadores. Será, sem dúvida, uma nova janela para o mercado de startups.
A comparação entre IPO e STO mostra que são muitos os fatores favoráveis à eclosão dos security tokens nos próximos anos. O custo de um IPO ao longo de 10 anos é de US$ 21 milhões; o de um STO é de US$ 5 milhões. O tempo necessário para fazer um IPO é de 12 a 24 meses; o STO leva de 2 a 6 meses. No IPO o lançamento de ações é restrito a um único mercado; no STO os tokens são transacionados globalmente pela Internet.
Considerando todos estes pontos positivos e o sucesso recente de várias empresas em levantar bilhões de dólares através de ICOs, é de se esperar que o STO, mais seguro e regulamentado, irá despontar entre os principais veículos para viabilizar o nascimento (ou crescimento) de negócios inovadores e com grande potencial de ROI (retorno sobre investimento).
No ano passado, entre os maiores ICOs estiveram os da Filecoin, empresa americana de armazenamento de dados em blockchain, que levantou US$ 257 milhões; da Tezos, outra startup de blockchain que captou US$ 232 milhões; da Sirin Labs, empresa suíça que obteve US$ 157 milhões para fabricar um smartphone baseado em blockchain; e da The Bancor Protocol, israelense que desenvolveu tecnologia para Ethereum e conseguiu US$ 153 milhões.
Enquanto isso, o número de IPOs segue uma tendência descendente, particularmente no mercado de empresas de tecnologia e ciências da vida. Segundo pesquisa da Fenwick & West, no ano passado foram realizados 65 ofertas iniciais de ações de empresas destas áreas, sendo 38 no segundo semestre. O ticket médio levantado pelas empresas de tecnologia na segunda metade do ano foi de US$ 223,5 milhões e de US$ 96,3 milhões para empresas de ciências da vida, comprovando que um ICO pode atingir capitalização semelhante.
Pense no tamanho deste mercado se levarmos em conta que qualquer ativo poderá ser transformado em tokens. Um empresário do setor de logística, por exemplo, conseguirá fazer um STO apresentando armazéns e frotas de caminhões como garantia, uma construtora seus imóveis, uma rede varejista seu estoque e suas lojas; e seja lá mais o que puder trazer tranquilidade aos investidores.
Em resumo, empresas que tenham ativos irão encontrar no STO uma alternativa até aqui nunca imaginada para se capitalizarem. Não é exagero dizer, o blockchain será o ponto de inflexão entre o velho e o novo sistema financeiro, a nova e a velha economia, o mundo antes e depois da Internet.
É natural que um movimento desta dimensão comece a ganhar força em uma economia desenvolvida como a americana, mas é também evidente que alcançará rapidamente uma presença em novas fronteiras na esteira do crescimento das criptomoedas, que, a despeito de toda polêmica e seguidas oscilações, continuam conquistando novos investidores em todo mundo; muitos deles, provavelmente, estreantes no mercado de ações.
Sem perder tempo, a Canadian Securities Exchange anunciou no início do ano que irá lançar uma plataforma de blockchain baseada em Ethereum para que empresas canadenses possam transacionar seus security tokens regularmente. Outros países, inclusive o Brasil, não poderão ficar de fora sob pena de perder competitividade na economia cada vez mais global e digital.
E você? Já começou a programar seu STO? É bom ficar atento. Afinal, agora mesmo seu concorrente pode estar planejando lançar seu próprio token e você vai ficar pra trás.
Pierre Schurmann é Managing Partner da Bossa Nova e do BR11, primeiro STO da América Latina