06/11/2017 - 7:30
Quem acompanha o calendário de eventos do segmento de inovação e cultura maker, pelo Brasil afora, já deve ter percebido que o universo das startups acabou reproduzindo o ambiente distorcido (e infelizmente comum!) do mundo dos negócios nos quais os refletores estão direcionados apenas para os homens oriundos das classes A e B. As mulheres são minoria. Os empreendedores negros uma raridade. E as mulheres negras, então, i-ne-xis-ten-tes! A paulistana Maitê Lourenço, 33 anos, é o que podemos chamar de exceção que confirma a regra. Durante sua jornada empreendedora ela pode testemunhar os mecanismos de exclusão sutil daqueles que não se enquadram em um figurino pré-determinado. Contudo, em vez de recuar, ela fez de mais essa dificuldade um combustível para crescer.
No sábado (11 de novembro), Maitê comandará um dos mais cobiçados espaços da cena empreendedora de São Paulo: a Escola de Negócios Sebrae, situada no bairro de Santa Cecília, região central da cidade. Lá, o BlackRocks, que atua como consultoria e aceleradora de negócios, vai promover uma intensa programação de palestras, workshops e mostra de empreendedores, muitos dos quais garimpados na base da pirâmide. “Vamos oferecer conteúdo qualificado e dar visibilidade a projetos que movimentam a economia criativa e colaborativa da cidade, mas que, por estarem na periferia, muitas vezes não são reconhecidos como parte do movimento maker”, destaca.
A Arena BlackRocks será composta de 10 horas de programação simultânea, despontando como um dos pontos altos da São Paulo Tech Week, um dos maiores eventos do setor, no país. A ambição é cobrir desde o chamado empreendedorismo tradicional e debater o mundo das startups, que são empresas baseadas na inovação a partir de ferramentas tecnológicas.
Os workshops, as mentorias e apresentações vão cobrir desde a questão financeira e a utilização das novas ferramentas de comunicação presentes nas mídias sociais, até a presença da tecnologia em atividades artísticas como a concepção e o planejamento do desfile de uma escola de samba ou as produções musicais do gênero hip hop.
Maitê começou nesta jornada meio que por acaso. Psicóloga especializada em relações raciais e no mundo corporativo, ela criou a CDC – CIA de Currículos, em 2010, com a ambição de auxiliar profissionais de diversas áreas a se apresentar de forma mais assertiva ao mercado de trabalho. No front social, ela se dedicava a questões como exclusão racial e a busca da maior participação das mulheres na sociedade, como integrante de um coletivo de feministas.
Mas foi a partir do ingresso no grupo de whatsapp BlackRocks, criado por Michel Porcino, assessor da SP Negócios, que ela começou a transitar pelo universo maker. “Ele atuava no programa Tech Sampa (de inovação), e nos incentivava a participar dos eventos ligados ao tema”, recorda. A convivência no ambiente maker foi lhe causando um certo desconforto e uma grande angústia. Não apenas por ser a única negra, mas também pela constatação empírica de que havia um imenso processo de inviabilização da inovação que brota na periferia das grandes cidades.
Mais do que constatar, decidiu agir. No começo de 2016, ela desenhou um plano de ação e foi falar com o amigo Michel. “Cheguei e perguntei se além de participarmos do circuito de startups, não seria o caso de fazermos algo maior”, conta. “Para minha surpresa, ele não apenas gostou da ideia como me deu o direito de usar o nome BlackRocks”.
No evento de sábado (11 de novembro), na Arena BlackRocks, Maitê espera reencontrar não apenas o amigo, como também outras 599 pessoas, entre makers, desenvolvedores de aplicativos (apps), curiosos, microempresários, estudantes, donas de casa e todos que possam se beneficiar das ferramentas digitais e das mentorias na aceleração de seu trabalho e de seus conhecimentos. Até porque, é a partir da lapidação que as pedras preciosas conquistam ainda mais valor.