O Ministério da Integração Nacional (MI) ganhou espaço no noticiário nos últimos tempos por conta das tragédias com as chuvas, como a de Angra dos Reis, no ano passado, e a da região serrana do Rio de Janeiro, este ano. É a pasta responsável pela liberação de verbas a Estados e municípios para prevenção de desastres, o que a deixou em maus lençóis diante da comoção nacional com as mortes provocadas pela tragédia fluminense. 

Para complicar, o antigo titular do MI, o baiano Geddel Vieira Lima, canalizou quase metade das verbas para a Bahia.  O novo ocupante, o pernambucano Fernando Bezerra Coelho, assumiu o posto com o desafio de mostrar uma gestão mais eficiente. 

 

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“Vamos atrás de empresas que possam estruturar cadeias de negócios na região” Fernando Bezerra Coelho, ministro da Integração

 

Ele já contratou a Fundação Getulio Vargas (FGV), de São Paulo, para estabelecer critérios de liberação de recursos. “Vamos ter parâmetros técnicos para diminuir o grau de subjetividade na partilha das verbas”, afirma. 

 

Além dessa mudança, Bezerra pretende dar um perfil de mercado para o ministério, com obras que criem infraestrutura para atrair grandes empresas ao interior do País. O currículo joga a seu favor. 

 

Como secretário de Desenvolvimento Econômico do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), entre 2007 e 2010, ajudou a atrair 300 empresas e a criar 157 mil empregos no Estado, com projetos como a refinaria da Petrobras e o complexo de Suape.

 

A menina-dos-olhos de Bezerra é um plano de irrigação que pretende implantar em parceria com o setor privado e visa aumentar em 200 mil hectares a área irrigada no Brasil, criando novos polos de produção agrícola no semiárido nordestino. 

 

Atualmente,  há quatro milhões de hectares irrigados em áreas privadas e 400 mil hectares em áreas públicas no País. “Queremos promover a irrigação como instrumento de eficiência na produção agrícola e como instrumento de geração de emprego e renda”, disse Bezerra à DINHEIRO. 

 

Foi com esse discurso que ele conseguiu o aval da presidente Dilma para a reestruturação no ministério, com a criação da Secretaria Nacional de Irrigação. A nova estrutura será anunciada pela presidente na segunda-feira 21, em Aracaju (SE), durante o Fórum de Governadores do Nordeste. 

 

A presidente ficou entusiasmada com o projeto do semiárido e gostou da solução apresentada – as parcerias público-privadas (PPPs). A primeira PPP do gênero já está em implantação em Petrolina, no Vale do Rio São Francisco, terra natal de Bezerra, da qual foi prefeito três vezes. 

 

Trata-se do Projeto Pontal, coordenado pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), que prevê a formação de uma área irrigável de 7,7 mil hectares para a produção de frutas. 

 

A área junto ao Velho Chico seria ancorada por uma grande empresa, que compraria a produção de pequenos produtores. É esse o modelo que o ministro quer ver nos outros projetos. O primeiro deve ser licitado até o fim do ano e os demais a cada seis meses. “O ministério vai parecer mais uma agência de desenvolvimento do que uma secretaria de obras.” 

 

Na segunda-feira 14, ele esteve em Araraquara, interior paulista, para apresentar o projeto à Fundecitrus, entidade que reúne produtores de suco de laranja do País, estimulando-os a levar a produção da fruta para regiões do semiárido nordestino, em áreas irrigadas às margens do rio São Francisco. 

 

Em seguida, Bezerra se deslocou para a sede da Cutrale, maior fabricante mundial de suco de laranja, e explicou as vantagens da proposta ao presidente da empresa, José Luis Cutrale. 

 

Além da laranja, o ministro vai procurar fabricantes como Coca-Cola e Pepsico, para oferecer-lhes projetos de produção de água de coco.“Vamos atrás de empresas que possam estruturar uma cadeia de negócios”, diz. 

 

A ideia foi bem recebida. “O governo tem o papel importante de criar oportunidades”, afirma o presidente da Fundecitrus, Lourival Carmo Monaco. O diretor corporativo da Cutrale, Carlos Viacava, também aprovou a iniciativa: “Trata-se de uma região em que o PAC está criando condições ideais de implementação de culturas irrigadas em larga escala.”