21/06/2006 - 7:00
Quando assumiu o comando da Leão Júnior, o executivo Renato Barcellos Guimarães se viu diante de uma situação inusitada. Sozinho na sala da presidência da mais tradicional fabricante de chás do País, dona da marca Matte Leão, sediada em Curitiba (PR), ele imaginava o que poderia fazer para aumentar as vendas de uma empresa que já é líder de mercado num setor em que quase tudo já foi inventado. Essa era a sua missão: fazer a Leão Júnior crescer de qualquer maneira. Foi para isso que a família Leão o contratou. Guimarães, o primeiro executivo fora do clã a comandar a centenária empresa, concluiu que o único jeito era reinventar esse mercado e alavancá-lo como um todo. Só que ele não conhecia nada sobre chás. Passou, então, a estudar o assunto e descobriu, entre outras coisas, que o chá verde, erva de origem asiática com poder terapêutico, era a grande vedete desse segmento no mundo. Não pensou duas vezes para lançar o produto por aqui, na versão líquida e em saquinhos. Com essas e outras novidades, a Leão Júnior aumentou a participação em todos os segmentos em que atua e deu fôlego ao mercado em geral, estagnado desde 2003. Nos primeiros três meses do ano, a venda dos chás líquidos prontos cresceu 22,7% e a dos secos, 4%.
Guimarães podia não entender de chá, mas sempre foi um expert em distribuição. Fez carreira na Coca-Cola e chegou a presidir uma das maiores engarrafadoras do grupo, a Norsa. A experiência de mercado do novo gestor foi vital para o crescimento da empresa. Ele reforçou o treinamento do pessoal de vendas, intensificou a negociação com as grandes redes de supermercados – que garantiu a redução do preço dos produtos ao consumidor em até 10% – e turbinou o marketing nos pontos-de-venda. Também intensificou as pesquisas de novos produtos. Hoje, por exemplo, a Leão Júnior patrocina estudos sobre o chá-mate em universidades brasileiras. A melhor notícia até agora, já comprovada, é que o produto tem o mesmo efeito terapêutico antioxidante do chá verde, que combate os radicais livres e, portanto, previne o câncer. ?Assim como o chá verde, estas novas descobertas da erva mate podem dar novo fôlego à empresa?, diz Guimarães. Por conta de todas essas medidas, no último ano a participação do Matte Leão passou de 62,9% para 66,2%, nos chás secos, e de 42,6% para 48,3% nos produtos líquidos. E as perspectivas para este ano são muito boas. Segundo o executivo, em 2006 a Leão Júnior deve aumentar 18% o seu faturamento sobre os R$ 134 milhões obtidos em 2005. ?Quando cheguei na empresa senti certa apreensão na família. Mas os resultados vieram e tudo se normalizou?, conta Guimarães.
O processo de profissionalização da empresa teve início há cinco anos, mas só foi consumado de fato em 2005, com a chegada de uma diretoria formada por executivos do mercado. ?A empresa estava com a marca envelhecida. Os herdeiros foram muito sábios em tomar essa decisão?, diz Renato Bernhoeft, presidente da consultoria que leva o seu nome e é especializada em gestão de empresas familiares. Foi Bernhoeft quem comandou o processo de profissionalização na Leão Júnior. ?A profissionalização dá agilidade às decisões, fundamentais num ambiente competitivo?, afirma o consultor. Segundo ele, a companhia agora está melhor posicionada e buscando novos nichos para se expandir. Um deles é o mercado externo. Até 2007, Guimarães espera turbinar as exportações. Hoje, as vendas externas representam 3% do faturamento da companhia. ?O objetivo é elevar esse patamar a 8% das receitas até o ano que vem?, conta o presidente da Leão Júnior.