28/05/2008 - 7:00
DA JANELA DE SEU ESCRITÓRIO, NO 17.º ANDAR DE um edifício no subúrbio de Amsterdã, o diretor-geral do ABN Amro, Douglas Grobbe, avista uma imensa área verde quase descampada cuja calmaria é interrompida pelo constante fluxo de carros da rodovia que corta a região. É ali, num espaço de três milhões de metros quadrados (o equivalente a dois Parques do Ibirapuera), localizado próximo do aeroporto internacional da cidade, o Schiphol, que Grobbe e sua equipe estão erguendo um dos mais ambiciosos projetos urbanísticos da Europa, batizado de Zuidas. Trata-se de um imenso bairro que abrigará escritórios, nove mil residências, universidades e shopping centers. Concluído, será o local de trabalho, estudo ou moradia de cerca de 50 mil pessoas. É praticamente o equivalente à população de Garça, a 415 quilômetros de São Paulo. Segundo Grobbe, 40% da área será destinada à construção de apartamentos, 40% para escritórios e 20% para shoppings. ?Queremos formar uma região mais colorida, bonita, multifuncional, cosmopolita e que traga bastante emprego para cá?, afirma Grobbe, com um sorriso no rosto.
Em 25 anos, o projeto consumirá 2,7 bilhões de euros e mudará o cenário da região, submergindo as estradas atuais, além das linhas de trem e de bondes. Assim, essa minicidade, hoje separada de Amsterdã pelo cinturão ferroviário, será incorporada à capital holandesa. Mas o que chama a atenção é o objetivo declarado de Grobbe: trazer empresas e funcionários estrangeiros para trabalhar na Holanda. A meta de Grobbe é transformar o Zuidas num centro de negócios multicultural, no qual a língua oficial falada será o inglês. À primeira vista, a atitude parece benevolente. Mas, na verdade, Grobbe quer aumentar a oferta de empregos no país. ?Digamos que uma empresa brasileira se instale aqui e precise de 300 funcionários. Mesmo que ela traga 100, outras 200 pessoas terão de ser contratadas no local?, prevê Grobbe. Se a idéia der certo, a Holanda poderá romper com a estagnação econômica que ronda os países da Europa. Trata-se de um sinal de que as coisas estão mudando no mundo. Primeiro porque Amsterdã investe num projeto para atrair gente de outras culturas justamente no momento em que alguns países europeus reagem ao ingresso de estrangeiros. Segundo porque até pouco tempo atrás, incentivos desse tipo eram comuns em economias emergentes, não em países desenvolvidos.
Já a partir de outubro deste ano, um centro para intermediar contratações estará em operação. O objetivo será agilizar a documentação para a permanência de estrangeiros no país, reduzindo a burocracia em 60%, segundo Grobbe. Até agora foram construídos 600 mil metros quadrados e os primeiros apartamentos começam a aparecer. A sede do ABN Amro está lá. Com pé direito alto, design moderno e jardim externo, é um exemplo da arquitetura e do paisagismo que predominará no Zuidas. ?Queremos criar vários ambientes externos, para que seja um local agradável tanto para trabalhar como para curtir as horas livres. Também utilizaremos materiais sustentáveis?, diz Grobbe. O mesmo centro de contratação terá também como missão aproximar as empresas dos centros de ensino, com o intuito de aprimorar a formação dos funcionários da região. ?Hoje não há mão-de-obra formada suficiente por aqui?, diz Grobbe.