03/01/2016 - 10:27
Eles são 60 legionários franceses que treinam no deserto nos Emirados Árabes Unidos e que ensinam em Bagdá a seus colegas iraquianos como desarmar dispositivos explosivos colocados pelo grupo jihadista Estado Islâmico.
Os soldados franceses de kepi branco pertencem à 13ª Meia-brigada da Legião Estrangeira (DBLE), que combateu na África durante a Segunda Guerra Mundial e em Indochina.
Desde fevereiro de 2015, fazem parte dos cem soldados franceses mobilizados no Iraque para treinar soldados na luta contra os dispositivos explosivos improvisados, os “IED” (em inglês: Improvised explosive device).
Com relação aos instrutores americanos, eles defendem uma abordagem diferente. “Vivemos com os soldados iraquianos, comemos com eles, dormimos no mesmo lugar”, facilitando a “plena adesão desde o início”, explica o tenente-coronel Enguerrand (o exército francês proíbe a citação dos sobrenomes de seus militares), de 40 anos, que passou quatro meses em Bagdá.
Os franceses formam uma unidade de elite do exército iraquiano, Iraqi Counter Terrorism Serviço (ICTS).
A Legião é conhecida por formar militares estrangeiros: ela própria recruta quase exclusivamente estrangeiros, que transforma em tempo recorde em soldados de elite.
“Temos facilidade em ensinar pessoas que não compartilham a mesma língua. Nos comunicamos em inglês ou em árabe com os iraquianos, porque temos em nossas fileiras falantes de árabe”, observa Enguerrand.
Com experiência no Afeganistão e no Mali, o oficial Mikhael mostra a seus alunos como identificar IEDs (minas artesanais, panelas equipadas com um detonador, cintos explosivos …).
As IEDs são utilizadas pela Al-Qaeda no Iraque, o Talibã no Afeganistão e pelo Estado Islâmico.
De acordo com Mikhael, de origem búlgara, “os membros do EI não são muito inteligentes, facilmente recorrem a atentados suicidas. No Afeganistão, os talibãs são de ‘alto nível” – embora também utilizem regularmente homens-bomba.
Os jihadistas iraquianos não causam menos danos, enchendo casas de IEDs, atacando postos de controle com carros-bomba ou suicidas explodindo-se em lugares públicos.
Após uma série de derrotas em 2014, os soldados iraquianos começaram a recuperar terreno – e reduzir as perdas em suas fileiras, garantem seus instrutores franceses, graças ao know-how adquirido.
“Minha maior satisfação é ver como eles agora entram nas casas em busca de IEDs escondidas em cozinhas, geladeiras, panelas”, resume Mikhael.
As bombas podem ser escondidas em qualquer lugar, e as buscas muitas vezes tomam longas horas. A fadiga que se acumula pode torná-los menos vigilantes.
As diferenças culturais também entram em jogo: “Os ocidentais têm uma ligação diferente com a vida. Aqui estamos é um pouco da cultura do ‘Inshallah’. Colocamos os feridos em um caminhão, e vemos no que vai dar”, explica o major enfermeiro Emmanuel, que ensina jovens recrutas as noções básicas de primeiros socorros em combate: fazer um torniquete, bem posicionar o ferido para maximizar suas chances de sobrevivência, etc.
Em 2015, o exército francês disse ter formado 1.700 combatentes iraquianos em Bagdá e curdos no norte do país (15.000 para toda a coalizão).
A missão da 13ª DBLE, baseado desde 2011 nos Emirados Árabes Unidos, será concluída na primavera.