O executivo Robério Esteves, responsável pela operação da fabricante dinamarquesa de brinquedos Lego no Brasil, enfrentou dois grandes desafios em sua carreira. O primeiro foi construir uma réplica do Cristo Redentor usando apenas os famosos bloquinhos de montar. Seu primeiro trabalho na companhia, há 26 anos, foi como designer, encarregado de criar grandes estruturas com o brinquedo para serem usadas em ações promocionais. “Foi difícil, cometi alguns erros, mas no final ficou muito bom”, afirma Esteves.

O segundo grande desafio era manter viva a operação local da Lego, após uma crise que quase levou a empresa à falência, no fim dos anos 1990, e provocou o fechamento de diversos escritórios pelo mundo, incluindo os do Brasil e o da Argentina. Esteves, que na época ocupava o cargo de gerente de marketing, recebeu a missão de montar uma estrutura terceirizada de importação e distribuição, para dar continuidade às vendas do brinquedo por aqui. Este ano, ele pode, finalmente, dizer que atingiu seu objetivo.

Após 16 anos, a companhia dinamarquesa, cujo faturamento global no ano passado bateu na casa dos US$ 4,7 bilhões, voltará a ter um escritório no País. Ainda não há uma data para o início dos trabalhos, mas, segundo Esteves, a inauguração vai acontecer neste ano. O objetivo é trabalhar de forma mais próxima com a distribuidora paulista MCassab, responsável pela comercialização dos brinquedos no mercado nacional. A parceria será mantida. O movimento se deve ao forte crescimento das vendas por aqui. Em 2013, de acordo com a distribuidora, o aumento ultrapassou 60%.

O bom desempenho se deve, em grande parte, a uma estratégia de ampliar a exposição da marca com a abertura de lojas exclusivas da Lego, operadas pela MCassab. Três delas já estão funcionando em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Nos próximos meses, será inaugurada a de Belo Horizonte. Além disso, a empresa se lançou no comércio eletrônico. Desde a semana passada, é possível comprar seus produtos diretamente no site. “Percebemos que a abertura das lojas Lego aumenta as vendas nas redes de varejo especializadas em brinquedos”, afirma Esteves. “Esse efeito é gerado pela maior visibilidade dos produtos.”

Nas lojas próprias, o cliente tem a oportunidade de conhecer uma parte da Lego, no mínimo, inusitada: a de brinquedos para adultos. São linhas e séries limitadas que atraem desde engenheiros e arquitetos até cientistas e físicos. Entre os produtos estão um robô ultra-avançado, utilizado por universidades para o ensino de robótica, e uma linha inspirada em grandes ícones da arquitetura, como a Robie House, famosa casa em Chicago, nos Estados Unidos, projetada pelo renomado arquiteto Frank Lloyd Wright.

Esses brinquedos complexos servem para manter viva nos adultos a experiência que tiveram quando criança. “O Dia dos Pais, por incrível que pareça, é uma das datas mais importantes para nós”, diz Esteves. Os brinquedos “para maiores” da Lego proporcionam criações impressionantes. Um aficionado por Lego, por exemplo, construiu uma réplica fiel de um Porsche, em escala, incluindo o típico motor boxer da montadora alemã de seis cilindros, câmbio e freio a disco. Apesar do sucesso entre os crescidos, para a Lego o que importa são as crianças, mercado que está em um momento favorável.

Neste ano, as vendas de brinquedos devem movimentar R$ 9 bilhões, ante R$ 8,4 bilhões em 2013, segundo a Abrinq, a associação que representa os fabricantes do setor. De acordo com seu presidente, Synésio Batista da Costa, está havendo uma melhora no ambiente competitivo graças à sofisticação dos produtos. O problema, para a Lego, é que cerca de 85% das vendas estão concentradas na faixa de preço até R$ 100. Um kit médio da fabricante não sai por menos de R$ 300. “Nosso faturamento não reflete a importância do Brasil em termos estratégicos”, diz o executivo. “O mercado vai crescer muito ainda.”