Franzir de sobrancelhas. Piscadelas discretas. O dedo indicador levemente erguido acima da cabeça. Os milionários aperfeiçoaram esses sinais para diferenciá-los dos cidadãos comuns nos leilões de arte em consagradas galerias internacionais como a Sotheby?s e a Christie?s. Templos de luxo, palco de transações que chegam a milhões de dólares, essas casas sempre foram instituições imutáveis ? tradicionais como a troca da guarda no Palácio de Buckingham. Surpresa: os dois grandes ícones do bater de martelo, sinônimo de exclusividade, agora também oferecem produtos mais em conta. São móveis, louças, artigos de decoração e jóias, quase sempre antigüidades, oferecidas a preços razoavelmente modestos. A Sotheby?s lançou o chamado Arcade Auctions. A Christie?s realiza o House Sale. A Doyle New York e a Bonhams & Butterfields também promovem lances de móveis e porcelanas chinesas.

 

O objetivo desse movimento popular é atrair um novo consumidor para o mercado de leilão de arte. Agora, com um lance a partir de US$ 500, é possível, por exemplo, levar para casa uma peça com o cobiçado certificado de autenticidade da Christie?s ou da Sotheby?s. Essa liquidação, para usar um termo que provoca ojeriza aos clássicos freqüentadores de leilões, é uma ótima oportunidade de investimento. ?Abre espaço para compra e venda de objetos que praticamente estavam fora do mercado?, diz o decorador paulista Eduardo Stadnik, especialista em mobiliários e veterano no setor. No caminho dessa nova tendência, Stadnik descobriu um belo nicho: assessora candidatos à compra e venda nessa nova vertente de lances que desceram da Lua para pousar na Terra. Seu trabalho é descobrir, em meio as ofertas, as relíquias realmente valiosas e as mais promissoras. Também fica ao seu encargo a resolução dos entraves burocráticos de transporte e tributos das peças arrematadas. Nesse trabalho, ele leva uma comissão de 10%. Nas visitas aos leilões, Stadnik já fez boas transações. Na Christie?s vendeu dois atlas, da biblioteca de Viena, datados do século XV. Antes desses novos espaços nas galerias consagradas, comercializar produtos desse quilate era difícil. Em geral, as peças ficavam até cinco anos nas prateleiras de antiquários. Nas lojas não há pressa para fechar os negócios, já que os produtos são consignados. No leilão, a velocidade é fundamental. O brasileiro dá uma dica: os livros representam os negócios interessantes, porque não são taxados ao entrar no Brasil.

As chances de fazer uma boa oferta e carregar uma raridade na bagagem também aumentou com esse novo tipo de leilão. É liquidez certa. Um aparador inglês da década de 50 foi vendido por US$ 2,6 mil no último House Sales da Christie?s. Nas lojas européias do ramo, as peças similares não saem por menos de US$ 3 mil. Desde as seculares mesas de jantar francesas, aos espelhos vintage, cristais e jóias da nobreza, tudo fica exposto para apreciação dos clientes uma semana antes do leilão. Assim, é possível se preparar adequadamente para acertar o valor do lance. Também vale fazer encomendas. Os funcionários anunciarão quando a peça escolhida ? seja uma louça chinesa ou um raro mobiliário ? estiver listada no ?leilão liquidação?. Mais uma boa notícia: os lances podem ser enviados por fax, e-mail ou telefone. O sistema é semelhante aos montados para os milionários arremates tradicionais. Porém, os veteranos recomendam: vá pessoalmente. Além de charmoso, é sempre muito divertido acompanhar de perto a disputa finalizada com a terceira batida do martelo.