O sucesso da seleção alemã na Copa do Mundo do Brasil foi amplamente consagrada como a vitória do planejamento no futebol, em contraposição ao improviso e à dependência dos raros talentos surgidos espontaneamente, apresentados pela esquadra brasileira, eliminada com uma vexatória goleada de 7 a 1. Para muita gente, a boa geração de jogadores comandados pelo técnico Joachim Löw só existe devido a um plano estabelecido pela federação do país, a partir de 2000, após a eliminação na primeira fase da Eurocopa.

Depois disso, os cartolas germânicos resolveram colocar em prática um projeto para aumentar a quantidade e a qualidade dos jogadores locais na liga alemã, a Bundesliga. Todos os clubes das duas primeiras divisões foram obrigados a montar escolinhas de futebol, dando origem a 366 centros de treinamento. Os estádios alemães vivem cheios e os clubes só podem competir se tiverem solvência financeira – a média de público do campeonato da primeira divisão é de 43 mil espectadores, contra 12 mil no Brasileirão.

Enquanto isso, no Brasil, os mesmos erros de anos se repetiram. Denúncias de corrupção nas categorias de base, clubes que dependem da venda de jogadores para a Europa para sobreviver e desorganização nos principais campeonatos, não raro decididos nos tribunais. A confusão no futebol, infelizmente, não é uma exceção no cenário esportivo nacional. Mas nem todos os esportes se encaminham para um futuro nebuloso. O tênis tem um projeto que promete resultados ambiciosos.

Fundado em 2002, pelo homem mais rico do País e pentacampeão brasileiro da modalidade, na juventude, o empresário Jorge Paulo Lemann, em parceria com o ex-tenista gaúcho Nelson Aerts, o Instituto Tênis surgiu com a proposta de traçar um caminho pavimentado de glórias para o esporte, ao abandonar a cultura de resultados de curto prazo. Nos dois últimos anos, o instituto passou por uma grande reformulação administrativa e estabeleceu a meta de formar, em duas décadas, 54 atletas que cheguem ao top 500 do mundo, 12 no top 10 e três que alcancem o topo do ranking.

A receita, para isso, será garantir que preceitos como a meritocracia, que norteiam as empresa controladas por Lemann – como Ambev, Burger King e Heinz –, sejam aplicadas no esporte. Desde 2013, os treinadores têm contratos exclusivos com o instituto e os 37 atletas apoiados possuem metas claras de desempenho, que incluem treinamento, alimentação e atitudes pessoais. Os tenistas, que antes só eram admitidos a partir dos 17 anos, agora podem ser preparados com apenas 5 anos de idade.

“Às vezes, a gente pensa que está dosando demais, mas, se o atleta não suportar essa pressão, como ele vai se comportar sacando na quadra central de Roland Garros?”, indaga Cristiano Borrelli, diretor-executivo do Instituto Tênis, que custeou seus estudos nos EUA jogando tênis, antes de passar pelo Merrill Lynch, em Nova York, e pela Natura. Os resultados têm vindo mais rapidamente do que o esperado. Uma das patrocinadas pela instituição, a jovem tenista paulista Letícia Vidal, 17 anos, já atingiu a posição de 37ª do mundo de juniores.

O projeto esportivo de Lemann está sediado em Alphaville, nas proximidades de São Paulo. E conta com o catarinense Gustavo Kuerten, o único brasileiro a alcançar o posto de número 1 das quadras de tênis no mundo, entre 2000 e 2001, como um dos conselheiros. Além de Lemann e Kuerten, o conselho inclui outros empresários e executivos que praticaram o esporte profissionalmente ou em categorias de base: Fernando Gentil, sócio da butique de investimento G5 Evercore, Aloísio Wolff, ex-presidente da Intermédica, Roberto Lage, da Comgás, e Hugo Scott, presidente da construtora Passarelli.

“O Brasil tem uma longa história de sucesso no tênis juvenil, com grande dificuldade de transição para o profissional”, diz Scott. “Queremos mudar isso.” Por exemplo, algo que o mundo corporativo sabe bastante bem como fazer é levantar dinheiro. Para atingir suas metas, o instituto pretende ampliar o orçamento de R$ 5 milhões para R$ 385 milhões anuais, em duas décadas. Se, no início, Lemann contribuía com quase 90% dos gastos, agora mais de 95% são cobertos por doações e recursos vinculados à Lei de Incentivo ao Esporte fornecidos por empresas como Itaú, Klabin, Tetra Pak e SAP.