A ilha grega de Lesbos oscilava nesta segunda-feira entre a revolta dos habitantes e o esgotamento de milhares de refugiados, que permanecem desabrigados desde os incêndios que devastaram na semana passada o campo de Moria, o maior da Europa

O local abrigava 12.000 pessoas em condições insalubres até o incêndio da madrugada de 8 para 9 de setembro.

Milhares de demandantes de asilo, esgotados e famintos, passaram várias noites a céu aberto desde a destruição do centro de registro e identificação de Moria, inaugurado há cinco anos, em plena crise migratória.

Alguns exilados seguiram, com hesitação, para o novo campo instalado provisoriamente em uma área próxima das ruínas de Moria. A área fica a três quilômetros do porto de Mitilene, capital da ilha.

“Se formos para lá, vamos morrer”, afirma o somali Ahmed, de 18 anos, ao apontar para a estrada onde milhares de migrantes estão aglomerados, em refúgios precários. “Se formos para lá, vamos morrer”, repete, desta vez mostrando uma cidade próxima.

Ele faz o gesto de degola com a mão, em uma referência à hostilidade dos exasperados residentes locais.

“Queremos estar seguros”, declara o compatriota Mohamed. “Não importa onde, mas seguros”, disse à AFP o jovem, que teme não ser autorizado a entrar no campo porque “é apenas para as famílias”.

Ao mesmo tempo, três pessoas entram na nova estrutura, incluindo uma mulher grávida. Quase 500 solicitantes de asilo entraram no novo campo até a noite de domingo.

“Em cinco dias a operação estará finalizada. Todos serão instalados no novo acampamento”, afirmou o ministro grego das Migrações, Notis Mitarachi, que visitou Lesbos durante dois dias para coordenar os trabalhos.

Muitos solicitantes de asilo, no entanto, se recusam a entrar no novo campo, alegando que estão cansados de esperar em Moria por meses, ou anos, para uma transferência a instalações na Grécia continental.

“Na rua faltam alimentos e água, mas nos sentimos seguros. Algumas ONGs tentam nos ajudar”, explica o somali Ziko, de 25 anos, que ao lado de um grupo de 200 pessoas optou por dormir no pátio de uma empresa perto de Moria.

Como alguns demandantes de asilo podem estar infectados com a covid-19, as autoridades anunciaram restrições para as saídas dos migrantes do novo centro.

Mitarachi afirmou que 200 pessoas poderiam estar contaminadas.

– Confrontos –

Os confrontos são frequentes na ilha de Lesbos entre migrantes e moradores locais, aos quais se unem militantes de extrema-direita. Os habitantes não querem a permanência dos migrantes em Lesbos.

Em Panagiuda, perto do novo campo, que tem previsão para receber 3.000 pessoas, os moradores protestam contra a decisão do governo.

“Esperamos que não façam um novo Moira”, disse Theodoros Mineskos, de 58 anos.

“Onde vão colocar estas pessoas? A comunidade local é contra esta solução e o governo sabe”, afirmou o prefeito de Mitilene, Stratis Kytelis.

Durante os últimos anos, a falta de higiene e a superlotação no campo de Moria foram muito criticadas pelas ONGs que defendem os direitos dos refugiados, que pedem com frequência a transferência dos solicitantes de asilo mais vulneráveis para o continente.

“Felizmente acabou a vergonha do campo de Moria”, declarou à AFP o prefeito. “Mas a tensão e a angústia continuam com todas estas pessoas nas ruas”.