Defensor de políticas de austeridade e pivô do fim do governo Scholz, Partido Liberal-Democrático termina pleito sob risco de ser barrado por cláusula de barreira. Verdes sofrem leve declínio.O Partido Social-Democrata (SPD) do chanceler federal Olaf Scholz não foi a única legenda que saiu castigada nas urnas neste domingo (23/02) de eleições federais antecipadas na Alemanha, que foram dominadas pelos conservadores e pela ultradireita.

Segundo as primeiras projeções, todos os partidos que formaram em algum momento a coalizão de governo liderada pelo chanceler nos últimos três anos sofreram um declínio entre o eleitorado, em meio a um cenário de crise econômica, alta nos preços de energia e tensões geopolíticas.

Enquanto o SPD, o partido que liderou a coalizão, sofreu uma derrota histórica – caindo da primeira posição para a terceira entre as bancadas do Parlamento (Bundestag) –, os Verdes devem sofrer uma redução mais leve e receber 12,3% dos votos, contra 14,7% na eleição de 2021. O resultado interrompeu a trajetória de crescimento que o partido focado em causa ambientais vinha protagonizando na última década.

Membros remanescentes da coalizão de Scholz, os Verdes mostraram dificuldades para promover sua agenda ambiental. numa campanha dominada pela economia e imigração. Nos últimos meses, o partido ainda se tornou um dos principais alvos de críticas da ultradireita, que ao longo da campanha acusou os verdes de instaurar uma “eco-ditadura no país”.

A agonia dos liberais

Entre os membros da coalizão, nenhum declínio foi tão dramático quanto o do Partido Liberal-Democrático (FDP), legenda pró-mercado que era parceira do chanceler Scholz até uma ruptura de novembro.

Segundo as primeiras projeções, o FDP deve perder mais da metade do seu eleitorado em relação a 2021, podendo terminar a disputa com 4,7% dos votos, abaixo da cláusula de barreira de 5%.

Caso o número se confirme e caso a legenda não consiga compensar o resultado com a votação de pelo menos três deputados por mandato direto,, o FDP não contará com uma bancada de deputados na próxima legislatura.

Essa seria apenas a segunda vez que isso ocorre na trajetória de 76 anos do partido – a última havia sido no pleito de 2013.

Nesta campanha o programa eleitoral do FDP estava repleto de bandeiras tradicionais da legenda: redução de impostos e da dívida nacional. O partido ainda abraçou um tema que dominou a campanha eleitoral: controles mais rígidos contra a imigração. Mas, como mostraram os resultados deste domingo, o eleitorado não abraçou o programa da legenda.

A agonia do FDP contrasta com a eleição de 2021, quando a legenda obteve 11,4% dos votos.

Desde o fim da guerra, os liberal-democratas quase sempre ocuparam um papel tradicional e influente na formação dos governos, atuando como os responsáveis por “coroar” um chanceler de outro partido ao forjarem alianças decisivas para garantir maioria no Bundestag. Nos mais de 70 anos da moderna democracia alemã, os liberais passaram mais de 50 deles no papel de parceiros de coalizão de governos federais.

O bom resultado de 2021 havia sido creditado à época ao deputado Christian Lindner, atual líder da legenda. No mesmo ano, ele aliou o FDP ao SPD de Scholz e aos Verdes para formar uma tríplice coalizão partidária a primeira desde a reunificação do país. No entanto, Linder se desentendeu frequentemente com seus parceiros.

Em novembro, veio a ruptura.

Na imprensa, Lindner acusou Scholz de tentar forçá-lo a suspender o chamado “freio da dívida” do país, um mecanismo com paralelos com um “teto de gastos” inscrito na Lei Básica (a Constituição Alemã) que limita severamente a capacidade de endividamento do país.

O rompimento efetivamente selou o fim da tríplice aliança partidária apelidada de “semáforo”, em referência às cores dos partidos que a integravam.

Dessa forma, o governo Scholz, reduzido ao SPD e aos Verdes, perdeu o apoio dos 90 deputados do FDP, tornando-se incapaz de assegurar uma maioria parlamentar. Só restou a Scholz abrir caminho para a convocação de eleições antecipadas – inicialmente, o pleito estava marcado para setembro.

No entanto, a imprensa alemã apontou que um documento elaborado internamente pelo FDP indicou que saída do partido do governo foi cuidadosamente calculada, para que os liberais rompessem com o impopular Scholz e tentassem recuperar prestígio entre o eleitorado. No entanto, como mostraram os resultados, os liberais falharam em se dissociar do governo.