03/02/2021 - 16:18
Versatilidade e capacidade de aprendizagem constante são características mais desejadas do que nunca das lideranças em um mundo instável, imprevisível e em transformações aceleradas. Nesse sentido, o aprendizado de novas competências e habilidades demanda necessariamente que os líderes se libertem de mitos incorporados culturalmente por décadas, tanto por executivos quanto por organizações.
Precisamos de um novo tipo de líder porque os modelos de liderança vigentes não servem mais, pois foram concebidos em uma realidade que já não existe. A escassez de líderes competentes é uma das maiores causas de muitos dos problemas que nos afligem em casa, no trabalho e na comunidade.
A grande questão é como migrar para um modelo mais coerente com o mundo em disrupção que estamos presenciando? O primeiro passo consiste em superar alguns mitos que empobrecem a forma de pensar sobre liderança. Há crenças e dogmas que podem ter sido úteis até as últimas décadas do século 20, mas, com certeza, não se adequam mais à eficácia necessária para os líderes daqui para a frente.
Assim, proponho uma reflexão sobre cinco mitos que distorcem a compreensão sobre o exercício da liderança:
Mito 1: “Líder é quem ocupa cargo”
Liderança não é sinônimo de cargo e nem de posição social. Tampouco é exercida apenas “de cima para baixo”. Quem tem filhos menores entende com facilidade o significado dessas palavras. Simples assim! Uma antiga e boa definição de liderança continua sendo a capacidade de influenciar pessoas em busca de um objetivo comum.
Mito 2: “A liderança é inata”
A crença de que o líder vem do berço precisa ser vigorosamente combatida. Não há evidência alguma de verdade nisso. Ninguém nasce líder. Uma pessoa pode aprender a ser líder. Infelizmente, a crença acerca da liderança inata conduz a inúmeros erros na hora de selecionar candidatos, promover profissionais, escolher parceiros, educar filhos e relacionar-se com alunos. Felizmente, para a humanidade, o “DNA de Líder” não existe. Ainda bem que não é possível clonar líderes feitos à imagem e semelhança de antecedentes nem de outros líderes que possam servir como “modelo”.
Mito 3: “Carisma é fundamental”
Carisma é realmente fundamental para o exercício da liderança? Esse é um dos mais importantes mitos do qual precisamos nos libertar em busca do líder que existe dentro de cada um de nós. Liderança não é sinônimo de carisma, nem de falar bem e, muito menos, de extroversão e simpatia. São crenças improcedentes. Se uma pessoa tem carisma, ótimo, isso facilita o exercício da liderança. No entanto, nada a impede de liderar se não tiver. O carisma pode até alavancar o líder, mas não substitui outras forças necessárias. O líder eficaz precisa ter conteúdo. Pessoas tímidas e introvertidas podem ser líderes eficazes quando sabem construir com suas equipes o rumo a seguir, têm coragem para tomar decisões difíceis e sabem se cercar de profissionais que os complementam, inclusive para compensar seu baixo nível de carisma quando as circunstâncias exigem.
Mito 4: “Existe um estilo ideal de liderança”
Esse é outro engano criado por simplificadores e reducionistas da realidade. Muitas empresas e pessoas se baseiam em um esquema de pensamento que restringe a ação do líder a duas dimensões: foco nas pessoas e foco nas tarefas. Assim, agem como se o mundo empresarial e da liderança fosse apenas bidimensional. Em nome de simplificações como essa, muitos treinamentos gerenciais se propõem à violência de transformar as pessoas naquilo que não são.
A busca do estilo ideal de liderança leva à recorrente discussão sobre se o melhor é o líder participativo ou o centralizador, com viés tendencioso de sempre apontar o participativo como melhor e mais eficaz. Nem sempre isso é comprovável. Conheço exemplos de sucesso em ambos os estilos. O perfil ideal de líder reside na capacidade de cada um em potencializar suas melhores qualidades e seus pontos fortes, bem como em saber lidar bem com diferentes circunstâncias. Como temos observado durante toda essa pandemia, liderar em época de crise e pressão é muito diferente de liderar em tempos auspiciosos. A situação pode ditar quais características e habilidades são ideais para o líder ter sucesso naquele momento específico. O estilo ideal está potencialmente dentro de cada um.
Mito 5: “O líder forma seguidores”
O Líder com “L” maiúsculo forma outros líderes e não apenas seguidores. A liderança competente é aquela que tem gente em torno de si – e não apenas gente atrás de si. Precisamos de líderes de qualidade em todos os níveis, pois não pode haver concentração apenas no topo das empresas. A organização ganha muito quando possui líderes capazes de garantir substitutos em curto prazo e sucessores no longo prazo. O entendimento de que o principal papel do líder é formar outros líderes, facilita a construção do “Capital Liderança”, indicador importante no momento de mensurar o valor de mercado da empresa.
Se libertar dos vários mitos em torno da Liderança é pré-requisito para criar espaço mental e emocional para aprendermos novas competências e habilidades, pois é preciso se transformar para ser o agente da transformação que sua empresa necessita!
- César Souza é cofundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia, Liderança, Clientividade e Inovação. Autor de “Seja o Líder que o Momento Exige” é também coautor do recém-lançado “Descubra o Craque que Há em Você” (Buzz, 2020)