22/05/2020 - 18:48
A arte é um dos melhores caminhos para compreendermos o mundo a nossa volta e refletirmos como nele nos inserimos. Desta fonte também podemos tirar importantes lições para pensamento e exercício da liderança, a partir de história, literatura e filosofia. Incluo nesse rol o esporte, que considero uma possível forma de expressão artística. Todas essas dimensões, além, obviamente, do cotidiano, complementam e ilustram o aprendizado advindo de conceitos, resultados de pesquisas, propostas acadêmicas e observação direta, bem como da análise de casos práticos da trajetória de líderes em várias áreas de atuação.
Aqueles que já participaram de algum Programa de Desenvolvimento de Líderes promovido pela Empreenda, empresa que dirijo, já exercitaram reflexões baseadas em aprendizados sobre liderança, carreira e vida empresarial extraídos de alguns filmes, peças teatrais, exposições de arte, músicas, textos literários e eventos esportivos. Tenho convicção de que o aprendizado sobre esses temas se dá muito além da ‘sala de aula’ e da leitura de livros técnicos e acadêmicos.
Podemos aproveitar esse momento de isolamento social imposto pela covid-19 para aprofundar nossa incursão pelo campo das artes, em busca de inspiração e conhecimentos sobre liderança.
Na pintura, por exemplo, as obras vanguardistas de Tarsila do Amaral, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Claude Monet e Pablo Picasso são fontes inesgotáveis, com análises sobre a representatividade de vários de seus trabalhos. Considere ainda que a própria trajetória e comportamento desses artistas se tornaram exemplos marcantes do exercício da liderança.
A tela “Le Levant du Soleil” / “Impression, soleil levant”, de Monet, pintada em 1874-1872, foi um marco decisivo na história da pintura, inaugurando o movimento Impressionista. Já a personalidade multifuncional de Leonardo da Vinci como pintor, escultor, arquiteto, matemático e inventor o consagrou como um precursor da liderança inovadora e transformadora, tão requisitada pelo mercado nos tempos atuais.
Uma possibilidade de imersão, para quem está em casa e possui algum tempo para o ‘lazer funcional’, é visitar virtualmente alguns dos melhores museus do mundo como o Prado, de Madrid (ESP); a Galeria Ufizzi, de Florença (ITA); e o Hermitage, de São Petersburgo (RUS).
Já no teatro, peças como “12 Homens e uma Sentença” nos coloca de frente ao complexo processo decisório, incluindo a capacidade de influenciar e negociar, quando um júri popular está decidindo se condena ou não um jovem acusado de assassinato. Esta peça é baseada no famoso filme homônimo produzido em 1957, disponível nos diversos sistemas de streaming.
Outro destaque recente é o monólogo “A Sombra do Invisível”, cujo roteiro é baseado em cartas trocadas entre Van Gogh e seu irmão Theo. A peça permite um belo mergulho em aspectos da autogestão, que persiste como uma espécie de “calcanhar de Aquiles” para líderes geniais na execução de tarefas e projetos, mas vulneráveis na capacidade de liderar a si próprio.
Outras obras teatrais antigas muito marcantes no meu aprendizado pessoal foram “Galileu Galilei” e “A Morte do Caixeiro Viajante”. Também podemos assistir, em casa, vídeos de vários musicais famosos como “Ópera do Malandro”, “Rent”, “Chicago” e “Os Miseráveis”.
Obviamente, o cinema não fica atrás e pode provocar debates extraordinários no que tange temas vinculados à liderança. Tenho utilizado muito os filmes “Invictus” e “O Diabo Veste Prada”. Entretanto, destaco algumas obras imperdíveis mais recentes, de 2019, como “Dois Papas”; “Judy”, sobre uma estrela brilhante no palco, Judy Garland, enquanto vivenciava uma lua minguante na sua vida pessoal; e “Ford vs Ferrari”, com várias lições sobre competição das marcas, colaboração entre equipes, coragem, traição e dinâmica das relações familiares e sociais no campo do trabalho.
Nesse momento delicado e de escassez que atravessamos, o filme “Perdido em Marte” merece ser visto, pois relata a capacidade de resgate e da enorme pressão de tempo, além da determinação do astronauta, que foi ‘abandonado’ em Marte, para sobreviver a uma adversidade extrema. Vale refletir sobre os pré-requisitos para um turnaround, seja na economia ou nas empresas e famílias, diante do atual período de confinamento forçado.
Ainda no audiovisual, recomendo algumas séries como, por exemplo, “Succession”, na Netflix, que pode ser magistralmente complementada com a leitura ou um vídeo da peça “Rei Lear”, de William Shakespeare.
Essa forma de aprendizado, permeada pelo lazer e enriquecimento cultural, surge em várias outras manifestações da arte como dança, música e literatura. Todas são pródigas em lições para a liderança, assim como diversas modalidades do esporte. Porém, esse já seria tema para um próximo texto.
Ao ler essas sugestões, se vier à mente algum filme, peça, atividade cultural ou ideia que possa servir de fonte de aprendizado, por favor, não hesite em me provocar. Sou eterno aprendiz no tema liderança e em outros temas.
É preciso se transformar para ser um agente da transformação que sua empresa necessita e que o momento exige!
César Souza é o fundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia Empresarial, Desenvolvimento de Líderes e na estruturação de Innovation Hubs. Autor de “Seja o Líder que o Momento Exige”