A Rússia invadiu a Ucrânia na esperança de uma vitória rápida, mas se viu mergulhada em uma guerra prolongada e exaustiva que não atingiu os principais objetivos de Moscou.

Estados Unidos e outros países impuseram sanções a uma Rússia cada vez mais isolada internacionalmente e garantem um fluxo constante de armas e outros equipamentos essenciais para a resposta militar da Ucrânia.

A forma como a guerra se desenrola, tanto no cenário mundial quanto no campo de batalha, serve de alerta dos perigos potenciais de lançar uma invasão e oferece outras lições.

O chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, general Mark Milley, disse que a guerra na Ucrânia traz “lições” para Washington e a Europa, bem como para Taiwan e China.

“Uma das coisas é que a guerra no papel é muito diferente da guerra real”, disse ele.

“Há muito atrito, névoa e morte”, acrescentou Milley, que previu que a falta de experiência de combate e de treinamento dificultaria uma invasão chinesa de Taiwan, que Pequim reivindica como sua.

– Logística –

A Rússia tem um extenso arsenal nuclear e sugeriu a possibilidade de usá-lo na guerra da Ucrânia, embora a ameaça não tenha se traduzido em sucesso no campo de batalha. O subsecretário americano da Defesa, Colin Kahl, disse esperar que a China leve isso em consideração.

“O fato de a Rússia ter armas nucleares não garante que sua invasão da Ucrânia seja bem-sucedida no terreno, muito menos como uma questão estratégica. E acho que é uma lição importante para Pequim aprender”, acredita Kahl.

A “agressão da Rússia contra a Ucrânia foi um desastre estratégico e catastrófico para (o presidente russo) Vladimir Putin. Acho difícil acreditar que (o presidente chinês) Xi Jinping queira que a China sofra uma reação semelhante da comunidade internacional”, completou.

O secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, declarou que a resposta à invasão russa demonstrou o compromisso internacional com o Estado de Direito.

“Assim que a Rússia invadiu a Ucrânia, vimos os países se unirem e não apenas fornecerem assistência de segurança, mas também participarem de sanções e de restrições comerciais”, comentou Austin.

Ele citou outros dois fatores que contribuíram para os fracassos da Rússia e para os sucessos da Ucrânia no campo de batalha.

“Há uma lição que continuamos a ver em relação à logística. Os russos lutaram com a logística desde o início”, e ainda lutam, especialmente quando se trata de munições de artilharia, disse.

Do lado ucraniano, os suboficiais e subalternos mostraram um bom desempenho, contribuindo para o sucesso das forças de Kiev.

“Acho que os ucranianos tiveram um bom desempenho desde o início por causa do treinamento que demos a eles (…) no nível de pelotão e esquadrão. Então, vimos a liderança ucraniana tomar e exercer a iniciativa no campo de batalha”, considerou Austin.

– Munições –

“Pela (…) forma como (os ucranianos) abordaram as coisas (de) forma assimétrica, atacando linhas de abastecimento, e nós, de comando e controle, ficou muito difícil para os russos terem sucesso desde o início”, acrescentou.

Mark Cancian, consultor do “think tank” americano Center for Strategic and International Studies (CSIS), estima que outra lição da guerra na Ucrânia é a importância de se observar o campo de batalha.

Drones e imagens de satélite tornam “muito mais fácil de ver e muito mais importante se esconder”, ressalta.

E, embora armas de precisão, como os lançadores de foguetes Himars, tenham desempenhado um papel essencial na Ucrânia, a guerra também mostrou que tecnologias mais antigas ainda têm seu lugar.

“Muitos pensaram que o campo de batalha se moveria, principalmente, com armas de precisão, e esse não foi o caso”, acrescenta Cancian.

“Ambos os lados disparam milhares (…) de projéteis não guiados todos os dias”, afirmou.

A grande quantidade de munição usada na Ucrânia levanta preocupações sobre o impacto nos estoques dos EUA. Kahl considerou que esta guerra demonstra o tipo de reservas que podem ser necessárias em outros lugares.

A Ucrânia oferece “lições sobre os tipos de munições de que precisamos, mas também os tipos de estoques que podemos precisar para disponibilizar para outros aliados e parceiros na linha de frente, caso vejamos um cenário semelhante ao da Ucrânia”, concluiu.