O desastre de Mariana repercutiu no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), organização de referência na promoção das boas práticas de tomada de decisão na alta administração das empresas brasileiras. Afinal, é evidente que o modelo de governança da Samarco não conseguiu evitar os ainda incalculáveis danos sociais, ambientais e econômicos a todos os que eram influenciados pela atuação da companhia.

Preocupado em gerar uma consciência e um aprendizado sobre essa tragédia, o IBGC publicou no início de fevereiro uma Carta de Opinião, um documento de alerta para toda a sua comunidade, formada por conselheiros, administradores e especialistas que atuam junto às maiores empresas do país.

Nela, afirma que é urgente a revisão dos processos de tomada de decisão, prestação de contas, transparência e comunicação com as partes interessadas e o público em geral. Defende que o enfoque seja estratégico e de longo prazo, pois os impactos serão sentidos, cedo ou tarde, no valor econômico e de mercado das empresas, podendo afetar decisivamente sua longevidade.

O IBGC puxa a orelha de conselheiros de administração e diretores ao alertar que a atuação deve evoluir de expectadores a protagonistas; da terceirização para a assunção de responsabilidades; do foco excessivo no curto prazo para a real preocupação no longo prazo; dos aspectos exclusivamente tangíveis para os intangíveis; de uma visão restrita para uma ampliada do papel das organizações e seu impacto na sociedade; do foco em acionistas para a expansão às demais partes interessadas. 

Reforça a recomendação de algumas práticas de boa governança às empresas brasileiras:

•    identificar impactos positivos e negativos de sua atividade e estar permanentemente atento a essas externalidades; 

•    mapear riscos, medir a probabilidade de ocorrência e a exposição financeira, incluindo os aspectos intangíveis, e implementar medidas para preveni-los ou mitigá-los; 

•    cumprir o Código de Conduta e treinar periodicamente todos os públicos a ele submetidos: administradores, colaboradores, fornecedores e prestadores de serviços; 

•    divulgar informações sobre estratégias e políticas e prestar contas da atuação 
e dos resultados alcançados de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões; 
•    definir a estratégia de relacionamento com as partes interessadas e garantir que esta relação seja transparente e de longo prazo; 

•    dispor de uma política clara de comunicação e de um sistema adequado, por meio de mecanismos formais, a fim de evitar a assimetria de informações com as partes interessadas. 

E o IBGC finaliza afirmando que ao buscarem a criação de valor econômico no longo prazo, as empresas passarão a perseguir o “lucro ótimo” em vez do “lucro máximo”.

Pragmático e objetivo, esse, sem dúvida, é um oportuno posicionamento do IBGC. Que repercuta e paute a atuação dos centros de decisão das empresas brasileiras.