A lua de mel de Mark Zuckerberg não está sendo das mais tranquilas. Poucos dias depois de protagonizar uma das maiores aberturas de capital da história dos Estados Unidos e de casar-se discretamente com a namorada da faculdade, Priscilla Chan, o encantamento do mercado financeiro com o jovem bilionário já havia desvanecido. As ações da companhia, que encerraram o pregão de estreia com alta de 0,6% – depois de ter chegado a subir acima de 10% –, acumularam queda de mais de 18% nos primeiros três dias de negociação. O IPO (oferta pública em ações, na sigla em inglês), que, literalmente, contou com milhares de “seguidores” em várias partes do mundo e surpreendeu pelo alto preço das ações, já é tido como um fracasso retumbante, um dos maiores já registrados na Nasdaq, a bolsa de tecnologia americana.

 

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Insustentável: a alta nas primeiras horas da estreia não se manteve e ações

podem cair ainda mais.

 

O pífio desempenho fez com que, na quarta-feira 23, um grupo de investidores entrasse com uma ação na Justiça contra o Facebook, Zuckerberg e os bancos responsáveis pela oferta, Morgan Stanley, Goldman Sachs e J.P. Morgan, alegando fraude na abertura de capital. Os investidores ficaram furiosos com notícias de que as principais instituições envolvidas na emissão já previam forte redução das receitas da empresa de internet, mas só avisaram grandes acionistas antes da venda de ações. As incertezas fizeram muitos investidores venderem os papéis e há quem aposte que as quedas ainda vão continuar. “O preço de US$ 38 por ação no IPO era alto demais”, afirma Antonio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da PUC-SP, convencido de que os papéis devem recuar para cerca de US$ 30.

 

Os prejuízos dos investidores que compraram ações da rede social na estreia levantam a discussão sobre vantagens e riscos na aposta em empresas que iniciam a negociação na bolsa. A possibilidade de obter bons lucros em pouco tempo e a oportunidade de apostar em uma empresa que está captando recursos e deve utilizá-los em breve são apenas alguns dos motivos que levam o investidor a entrar em um IPO. Para Santos, um dos principais problemas da oferta do Facebook foi subestimar o impacto dos grandes investimentos que serão necessários daqui para frente para que a empresa consiga aumentar suas receitas com publicidade de grandes empresas, que era o principal objetivo de Zuckerberg com a abertura de capital. 

 

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Fase ruim: Zuckerberg é alvo de investidores que alegam fraude

na abertura de capital.

 

“Esses gastos não foram considerados na precificação, o que tem levado a uma correção”, diz o professor. Avaliar se o preço das ações está muito alto é fundamental para decidir sobre a entrada num IPO. Mas fazer isso não é fácil, especialmente com empresas novatas. Para o economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, as estreias das empresas na bolsa são sempre uma incógnita. “Mesmo em empresas já conhecidas, como é o caso do Facebook, antes da abertura de capital muitos números e dados ainda são obscuros”, afirma Vieira. Segundo ele, a falta de conhecimento do investidor sobre o histórico da empresa é um dos principais riscos de apostar em uma estreia. 

 

Acrescente-se a isso a instabilidade das bolsas com a crise econômica mundial e fica fácil entender por que o mercado está tão difícil para os IPOs. Segundo um relatório recente da consultoria Ernst & Young, no primeiro trimestre do ano foram 157 aberturas de capital, que arrecadaram apenas US$ 10,4 bilhões no mundo. Foi o pior período desde o segundo trimestre de 2009. Esperava-se que a euforia em torno do Facebook, que arrecadou sozinho US$ 16 bilhões, mudasse esse cenário. No Brasil, em quase cinco meses, foram apenas três IPOs, que levantaram R$ 4 bilhões. Se continuar assim, em 2012 os IPOs vão levantar muito menos que a média anual de R$ 50 bilhões, no País, desde 2004. 

 

A expectativa da E&Y é de que o ano termine com a estreia de 20 companhias. Nos primeiros dias de negociação, as novatas Locamerica, BTG Pactual e Unicasa tiveram resultados díspares. Enquanto a empresa de locação de veículos viu seus papéis caírem 6%, as ações do banco de investimentos e da moveleira subiram 0,64% e 9,7%, respectivamente, no primeiro pregão. Para os especialistas, esses números não devem balizar as decisões. “O investidor geralmente se empolga com a chance de ganhar muito em pouco tempo, o que é um risco”, diz Vieira, da Souza Barros. “O mais importante é analisar os prospectos antes de decidir e evitar comprar apenas porque todos estão comprando”, afirma Santos, da PUC-SP.

 

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