16/03/2001 - 7:00
O mundo empresarial mudou profundamente nos últimos anos? Mudou. Os princípios sagrados da administração foram inapelavelmente superados? Foram. Por que, então, ler um livro sobre tais assuntos escrito há mais de 35 anos? Porque o autor do livro é Alfred Sloan Jr., um dos mais inovadores homens na história da indústria mundial. Meus anos com a General Motors (Negócio Editora, 408 págs.), publicado originalmente em 1964, dois anos antes da morte do autor, aos 90 anos, acaba de ser lançado no Brasil. A obra é a síntese da experiência colhida por Sloan em 65 anos de atuação no setor automotivo, 45 deles na General Motors, onde chegou a presidente do conselho de administração.
Sob sua gestão, a GM tornou-se uma das maiores companhias do mundo. Nunca mais deixou essa posição, graças aos alicerces fincados por Sloan. Seu nome é cultuado na empresa como uma espécie de profeta, cujos ensinamentos e conceitos devem ser mastigados e digeridos cuidadosamente. A fama ultrapassou os muros da empresa, rompeu os limites de Detroit e extrapolou o setor. A escola de administração do Massachusetts Institute of Technology (MIT) foi batizada com seu nome. Peter Drucker não cansa de citá-lo. Outro de seus fãs é Bill Gates. O dono da Microsoft é também seu companheiro no grupo dos quatro mais importantes homens de negócio do século eleitos pela revista Fortune, juntamente com Thomas Watson Jr., da IBM, e Henry Ford.
Mas, ao contrário dos colegas, Sloan não se destaca apenas pela inovação e capacidade de empreendedor. Ford, por exemplo, teve o mérito de organizar a produção e estruturá-la de forma a fabricar automóveis da forma mais rápida e econômica possível. Sloan, por sua vez, foi pioneiro em pensar a administração de uma forma, digamos, científica. Foi ele que, pela primeira vez, criou departamentos, definiu políticas empresariais e desenhou estratégias de longo prazo. E soube como colocar essas idéias em prática. Enquanto esteve na GM, a montadora não parou de crescer, principalmente através da diversificação e da internacionalização. Enfim, como defende Drucker, ele foi um dos criadores da moderna administração.
Anos antes da expressão remuneração variável entrar no vocabulário empresarial, Sloan resumia a necessidade dessa política como uma resposta à ?preocupação com o bem-estar dos acionistas da General Motors tanto quanto dos seus executivos. Um está intimamente relacionado ao outro.? Ou seja, sem o envolvimento dos funcionários, os resultados da companhia estariam comprometidos. Já naquela época, Sloan investia contra um vírus que contamina as empresas até hoje, a dificuldade de se adaptar às mudanças. ?Quando descrevi a organização da GM espero não ter deixado a impressão de que acredito que é um produto acabado. Nenhuma empresa deixa de mudar. Virão mudanças para melhor ou para pior.? O curioso é que, na década de 80, a própria GM enfrentou uma de suas piores crises devido à incapacidade de se adequar aos novos tempos. Um dos méritos do livro é que Sloan não se limita a amarrar uma sucessão de fatos. Ele mescla eventos de sua trajetória com a história da própria companhia. Daí, extrai conceitos e teorias, expostos de forma simples e direta e que perduram até hoje. É isso que faz o livro permanecer tão atual.
Os passos rumo à expansão Sob a batuta de Sloan, ao longo de 45 anos, a General Motors tornou-se uma das maiores companhias do mundo. A receita utilizada por ele, base de seu livro, inclui diversificação, como a fabricação de veículos militares, a produção em série e os investimentos maciços em tecnologia. |