O líder supremo do Afeganistão pediu nesta sexta-feira (29) à comunidade internacional que reconheça o governo Talibã e afirmou que o restabelecimento das relações diplomáticas ajudaria a solucionar os problemas do país.

Até o momento, nenhum país reconheceu formalmente o novo regime afegão, no governo desde o retorno dos talibãs ao poder em agosto do ano passado.

Em uma mensagem divulgada nesta sexta-feira, pouco antes da “festa do fim do jejum”, que marca o fim do mês do Ramadã, o líder supremo, Hibatullah Akhundzada, não falou sobre os pontos de divergência com a comunidade internacional, em particular a questão da reabertura das escolas do Ensino Médio para meninas.

Ele ressaltou que o reconhecimento do governo é a prioridade “para que possamos resolver nossos problemas, respeitando as normas e princípios diplomáticos”.

“Sem margem para dúvidas, o mundo se transformou em uma pequena aldeia global”, disse Akhundzada, que vive recluso em Kandahar, centro espiritual dos talibãs.

“O Afeganistão tem um papel a desempenhar pela paz e estabilidade do mundo. Por isto, o mundo deve reconhecer o Emirado Islâmico”, acrescentou.

A mensagem foi divulgada no momento de aumento da violência no Afeganistão, com vários atentados reivindicados pelo grupo Estado Islâmico.

– A situação das mulheres –

A comunidade internacional exige que o reconhecimento e a ajuda humanitária que o Afeganistão precisa desesperadamente estejam diretamente vinculados ao respeito dos direitos das mulheres.

Ao retornar ao poder, os talibãs se mostraram mais flexíveis que durante seu primeiro regime (1996- 2001), quando as mulheres foram privadas de quase todos os seus direitos.

Mas, em pouco tempo, o governo reduziu progressivamente os direitos, após 20 anos de liberdade conquistada pelas mulheres.

Agora, elas estão excluídas dos empregos públicos, não podem viajar sozinhas e devem usar roupas de acordo com uma interpretação rigorosa da lei islâmica.

Em março, o Talibã voltou a impedir que as meninas e adolescentes frequentassem as escolas, pouco depois de anunciar a retomada das aulas para as mulheres. A mudança, justificada apenas com a afirmação de que a educação das mulheres deve seguir o que determina a sharia (lei islâmica), provocou indignação na comunidade internacional.

Várias fontes do movimento Talibã afirmaram à AFP que a decisão foi tomada apenas por Akundzada.

Em sua mensagem, o líder supremo do Afeganistão declarou: “Respeitamos e defendemos todos os direitos da sharia para os homens e as mulheres no Afganistão… Não utilizem o tema humanitário e emocional como um instrumento com fins políticos”.

Akhundzada também afirmou que o governo está disposto a respeitar a liberdade de expressão no âmbito dos “valores islâmicos”.

Desde a chegada ao poder em agosto, o Talibã fechou centenas de meios de comunicação, proibiu a música em público e impediu a exibição de filmes e séries que incluam mulheres.