28/08/2021 - 8:59
Desde que assumiram o poder no Afeganistão em 15 de agosto, muitos dirigentes talibãs apareceram em público em Cabul, mas o líder supremo do movimento fundamentalista, Haibatullah Akhundzada, permanece na sombra.
Mulá especializado em questões religiosas e judiciais, o nome de Akhundzada começou a ser ouvido em maio de 2016, quando substituiu no comando do grupo Talibã o mulá Mansur, que morreu em um ataque americano com drones no Paquistão.
Sua primeira meta era unir o movimento fundamentalista, dividido pelas lutas internas e a descoberta de que a morte de seu fundador, o mulá Omar, havia sido escondida durante anos.
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Pouco se sabe sobre o papel de Haibatullah Akhundzada, que se manifesta apenas durante as datas festivas islâmicas. Para muitos analistas, seu papel é mais simbólico que operacional.
Ninguém sabe onde ele está e Akhundzada nunca fez aparições públicas. Os talibãs divulgaram apenas uma foto dele até hoje.
Filho de um teólogo, natural de Kandahar, território pashtun e berço dos talibãs, Akhundzada tinha antes de sua nomeação uma grande influência no movimento, Ele chegou a comandar o sistema judicial do grupo.
Desde que recuperaram o poder no Afeganistão, 20 anos depois de terem sido expulsos por uma coalizão internacional liderada pelos Estados, os talibãs não revelaram seus deslocamentos e atividades.
– Uma vida de eremita –
“Se Deus quiser, você o verão em breve”, afirmou esta semana à imprensa o principal porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid.
Os dirigentes das diferentes facções talibãs apareceram em público em Cabul nos últimos dias.
Tradicionalmente os talibãs deixam seu líder supremo na sombra. O fundador do grupo, o mulá Omar, tinha uma vida de asceta e mal foi visto na capital afegã durante o período anterior de governo dos fundamentalistas, entre 1996 e 2001.
Omar vivia escondido em sua residência em Kandahar e relutava muito em receber outros dirigentes em casa. Mas sua palavra era considerada sagrada, um respeito que nenhum de seus sucessores conseguiu.
Para Laurel Miller, que coordena o programa para Ásia do ‘International Crisis Group’, Haibatullah Akhundzada “parece ter adotado um modo de vida similar ao de um eremita”.
A discrição pode ser motivada também pela segurança, para evitar um fim similar ao de seu antecessor, Mansur, opina a especialista.
“Ele pode aparecer em breve para calar os boatos sobre sua morte, mas é possível que se retire novamente para exercer sua autoridade de forma isolada, como fez o mulá Omar”, acrescenta.
– Manter o equilíbrio entre facções –
O movimento Talibã, formado por várias facções procedentes de diferentes partes do Afeganistão e representantes de grupos com aspirações diferentes, sofre pele menos uma cisão importante em 2015, quando foi divulgada a notícia da morte do mulá Omar.
Após 20 anos de guerrilha, os fundamentalistas terão que manter o equilíbrio entre as diferentes facções, de interessantes às vezes conflitantes, em sua volta ao poder.
O vazio de poder ameaçaria desestabilizar um movimento que, sob a liderança de Haibatullah Akhundzada, conseguiu manter a coesão apesar da guerra, da morte de milhares de combatentes, do assassinato ou do envio para a prisão de Guantánamo de alguns de seus principais dirigentes.
Para outros analistas, o líder talibã aguarda apenas a retirada definitiva dos americanos, em 31 de agosto, para aparecer em público.
“Os talibãs consideram que estão na jihad enquanto as forças estrangeiras permanecem no território afegão”, comenta Imtiaz Gul, analista paquistanês de questões de segurança. “Por este motivo, seu líder supremo não se permite ser visto”.