29/08/2023 - 7:58
O número de mulheres donas de negócios no Brasil chegou a 10,3 milhões em 2022, segundo a pesquisa Empreendedorismo Feminino. As mulheres representavam 34,4% do universo de donos de negócios no país, muito próximo do recorde de 34,8%, verificado em 2019.
Os dados são de pesquisa pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), cruzados com informações do IBGE. Porém, apesar de liderarem em números, mulheres empreendedoras lidam com mais obstáculos na criação e gestão de seus negócios. É o que debatem palestrantes no Startup Summit 2023, evento realizado em Florianópolis (SC), com apoio do Sebrae e que reuniu quase 40 mil participantes em três dias.
A Coordenadora Nacional de Empreendedorismo Feminino do Sebrae, Renata Malheiros, conversou com empreendedoras no painel ‘Mulheres e liderança: como superar os perrengues e prosperar’. Segundo Renata, a atuação em redes é a solução maior dos problemas culturais que envolvem sobrecarga de trabalho para mulheres e dificuldades para gestão.
As mulheres empreendedoras, segundo pesquisas do Sebrae, dedicam 17% menos horas aos seus negócios do que os homens empreendedores. E o IBGE nos mostra que as mulheres dedicam o dobro de horas nas tarefas domésticas do que os homens.
“Como se dedicar a nossas empresas se não temos nem tempo nem energia por conta da sobrecarga de trabalho? Quando estamos em redes, e estas são o principal antídoto para essa questão cultural, a gente descobre que pode e deve conversar sobre ter uma melhor divisão de tarefas dentro de casa, a gente pode e deve cobrar mais políticas públicas, como creches, transportes, alimentação para tirar essa sobrecarga dos ombros das mulheres”, explica.
“O preço dessas crenças são a saúde mental da mulher e ela não correr atrás dos seus sonhos. A primeira coisa é tomar consciência de que ninguém está livre desses estereótipos. Você olha pra si mesmo e se pergunta se está reproduzindo. Estar em rede e sugerir soluções: esse é o caminho para mudar”, diz Renata.
Acompanhando a fala de Renata e também na programação do evento no palco do tema ‘Do Problema à Solução: Startups de Impacto como respostas aos desafios sociais’, Karine Oliveira, criadora da Wakanda Educação, startup educacional em Salvador (BA), reforçou a fala da colega sobre a atuação de mulheres em rede.
“Liderança a gente já tem. Se pararmos pra pensar, não é no meio de startups, mas enquanto mulheres, representamos a maior parte das lideranças de negócios. O problema é: por que esses negócios não são tão grandes? Por que não são grandes empresas? Nós temos mulheres à frente de negócios, mas quando verificamos o faturamento, comparados a outras empresas, a gente some; aparecemos à frente de pequenos negócios e em negócios por necessidade”, explica.
“O que podemos fazer, pensando na liderança de soluções em tecnologia, é como é que fazemos a redistribuição de investimentos: quantos editais, quantas formações, quantos eventos específicos para que tratemos de dinheiro nas mãos dessas pessoas. Ter categorias específicas para investir em lideranças femininas, pois elas precisam se desenvolver. Já existimos, já estamos aqui”, afirma Karine. Baiana, ela fez parte da lista Forbes Under 30 em 2021, e tem trabalhos feitos por e para mulheres negras.
Para Hellym Ribeiro, gerente da Zoho for Startups no Brasil, a liderança feminina pode aumentar a chance de lucratividade da empresa. “Contudo, percebemos que investimentos e aporte financeiros às startups que são fundadas por mulheres, representam desafios na alavancagem dos seus negócios. Se de um lado, há desafios, na outra ponta, percebemos um aumento de iniciativas voltadas para o empreendedorismo feminino com o objetivo de capacitar, educar, acelerar e investir financeiramente em startups fundadas por mulheres”, finaliza.
Governança e equidade racial
A equidade racial também foi debatida no palco do Startup Summit no terceiro dia de encontro. Guibson Torres, co-fundador e Gerente Executivo no Pacto de Promoção da Equidade Racial, comentou que, apesar de as empresas estarem avançadas na pauta ESG, ainda há muitos questionamentos, já que 56% da população brasileira é negra, mas menos de 10% em posições de liderança.
“Como esses avanços podem ser medidos e comunicados para a sociedade? Quando trazemos a questão racial, ainda temos resistências sobre o aspecto de governança. Ainda precisamos cobrar mais da sociedade e ela ser agente de mobilização”, declarou.
O Pacto de Promoção da Equidade Racial visa implementar um Protocolo ESG Racial para o Brasil, trazendo a questão racial para o centro do debate econômico brasileiro e atraindo a atenção de grandes empresas nacionais e multinacionais, da sociedade civil e do Governo para o tema.
Para ele, uma das soluções é o que o Pacto tem provocado. “Não tem como combater mazelas sem conhecer. O que temos feito é mostrar para empresas como essa mazela se comporta, se enraíza e se multiplica dentro das organizações, utilizando dados públicos e trazendo indicadores. Para quem não sabe como começar, a criação de um protocolo ESG pautado em raça serve para elas, de pequeno, médio ou grande porte”, contou para o público.