Em videoconferência com Zelenski e o presidente americano, países pedem trégua imediata e rejeitam negociação territorial sem participação de Kiev. Cúpula EUA-Rússia acontece nesta sexta.Após uma videoconferência nesta quarta-feira (13/08) com o presidente dos EUA, Donald Trump, líderes europeus defenderam que o diálogo entre Washington e Moscou sobre a guerra na Ucrânia deve resultar em um cessar-fogo imediato, e rechaçaram a possibilidade de que negociações territoriais aconteçam sem a participação direta de Kiev.

Participaram os chefes de governo de países como França, Alemanha, Polônia, Reino Unido, além do presidente ucraniano Volodimir Zelenski. O diálogo antecede a cúpula presencial entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, prevista para acontecer na sexta-feira no estado americano do Alasca.

Trump disse que haverá “consequências severas” se Putin não encerrar sua ofensiva militar após o encontro.

Moscou ampliou sua ofensiva em território ucraniano dias antes da cúpula nos EUA, ganhando terreno na região de Donetsk e acumulando vantagem para as negociações com Trump. O presidente americano chegou a afirmar que trocas territoriais seriam necessárias para selar a paz, ampliando temores de que território ucraniano seria negociado como parte de um cessar-fogo durante a cúpula bilateral.

Em uma coletiva de imprensa ao lado do presidente ucraniano, o chanceler federal alemão, Friedrich Merz, rejeitou esta ideia. “O princípio de que as fronteiras não podem ser alteradas pela força deve continuar valendo”, disse. “A Ucrânia está pronta para negociar questões territoriais, [mas] o reconhecimento legal das ocupações russas não está em debate”.

Ele defendeu que as conversas incluam garantias de segurança robustas para Kiev, permitindo que as Forças Armadas ucranianas mantenham sua capacidade de defender efetivamente seu país.

“As negociações precisam fazer parte de uma estratégia transatlântica comum. Só assim poderão ter maior chance de sucesso. Essa estratégia deve continuar a se apoiar em um forte apoio à Ucrânia e na pressão necessária contra a Rússia. Isso também significa que, se não houver avanço do lado russo no Alasca, então os Estados Unidos e nós, europeus, devemos aumentar a pressão”, afirmou Merz.

Zelenski pede novas sanções se não houver cessar-fogo

Em visita a Berlim para participar das conversas, Zelenski pediu que a Rússia enfrente novas sanções se deixar a cúpula com Trump sem um “cessar-fogo imediato”. Em março, a Ucrânia aceitou uma proposta de trégua desenhada pelos EUA e afirmou que não pode haver negociações de paz substanciais com a Rússia sem esse acordo.

“Esperamos que o tema central da reunião seja um cessar-fogo”, disse ele, repetindo o pedido para que qualquer negociação ocorra com a presença de Kiev. Trump afirmou aos europeus que quer organizar uma reunião trilateral incluindo também Zelenski, ideia que tem sido rejeitada por Moscou até o momento.

“Disse aos meus colegas, ao presidente dos EUA e aos nossos amigos europeus, que Putin definitivamente não quer paz. Ele está tentando exercer pressão antes da reunião no Alasca em todas as frentes ucranianas. A Rússia está tentando mostrar que pode ocupar toda a Ucrânia”, afirmou Zelenski.

Macron: EUA querem alcançar cessar-fogo

Também após a videoconferência, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que Trump foi “muito claro” ao dizer que os Estados Unidos querem alcançar um cessar-fogo na cúpula do Alasca.

“O segundo ponto sobre o qual as coisas ficaram muito claras, conforme expresso pelo presidente Trump, é que os territórios pertencentes à Ucrânia não podem ser negociados e só serão negociados pelo presidente ucraniano”, disse Macron a repórteres.

O presidente francês afirmou esperar que o encontro trilateral prometido por Trump aconteça na Europa, “em um país neutro aceitável para todas as partes”. “Não há atualmente nenhuma proposta séria de troca territorial sobre a mesa”, acrescentou.

Reino Unido diz que planos militares para cessar-fogo estão prontos

Durante a reunião, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, reforçou o “apoio inabalável” de seu país à Ucrânia, segundo o comunicado do Reino Unido emitido pelo seu gabinete.

“As fronteiras internacionais não devem ser alteradas pela força e a Ucrânia deve ter garantias de segurança robustas e credíveis para defender a sua integridade territorial como parte de qualquer acordo”, acrescentou.

Keir Starmer também afirmou que planos militares para apoiar a Ucrânia estão prontos para serem implementados caso um cessar-fogo seja alcançado. “Os planos militares já estão prontos em uma forma que pode ser utilizada se chegarmos a esse cessar-fogo”, disse.

O presidente da Polônia, Karol Nawrocki, pediu uma atuação mais incisiva para deter o avanço russo. “Apenas por meio de ações concretas e duras a Federação Russa pode ser parada. A Federação Russa não pode ter permissão para decidir como serão as fronteiras na Europa”, disse um porta-voz de seu gabinete a repórteres.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a Europa, os Estados Unidos e a Otan “reforçaram a base comum para a Ucrânia”. “Continuaremos em estreita coordenação. Ninguém quer a paz mais do que nós”, escreveu nas redes sociais.

Trump promete “consequências severas”

A repórteres, Trump afirmou que haverá “consequências muito severas” caso Putin não concorde em encerrar a guerra após a cúpula do Alasca. Ele também enfatizou que se o encontro for satisfatório haverá uma segunda reunião em breve.

“Gostaria de realizá-la quase imediatamente. E teremos uma segunda reunião rápida entre o presidente Putin, o presidente Zelenski e eu, se eles quiserem que eu participe”, acrescentou.

Ele afirmou que ligará para os parceiros europeus e Zelenski após a conversa com o líder russo.

gq/bl (AFP, Reuters, DW)