Na contramão do que alguns senadores tucanos e peemedebistas estão  defendendo, líderes do PSDB na Câmara dos Deputados tomaram posição  contra a proposta de instituir neste momento o chamado “parlamentarismo à  brasileira” ou “semiparlamentarismo”. Lideranças tucanas ouvidas pela  reportagem avaliam que, diante da atual crise política e econômica do  País, este não é o momento ideal para se discutir uma mudança no sistema  de governo brasileiro.

A ideia de implantar o  ”semiparlamentarismo” ganhou força na semana passada, quando o Senado  aprovou, sem alarde, a criação de uma comissão especial para estudar o  tema. A proposta vem sendo articulada pelo presidente da Casa, senador  Renan Calheiros (PMDB-AL), como uma alternativa para preservar o mandato  da presidente Dilma Rousseff, que é alvo de pedido de impeachment na  Câmara. Pela proposta, ela se manteria no cargo, mas passaria a  administração do governo para um primeiro-ministro.

Para o  líder do PSBD na Câmara, deputado Antônio Imbassahy (BA), o novo sistema  de governo deveria ser discutido apenas em “tempos de paz”, o que, na  avaliação dele, não é o caso. “É um arranjo inoportuno que trará mais  problemas do que soluções”, afirmou o tucano. O parlamentar baiano disse  que irá defender, durante discussão interna do partido, sua posição  contrária a mudança do sistema, defendida principalmente pelos senadores  José Serra e Aloysio Nunes, ambos do PSDB paulista.

O  líder da minoria na Casa, deputado Miguel Haddad (PSDB-SP), avalia que a  discussão é “prematura” e “inoportuna”. “Não é momento de por isso em  discussão. Não é nossa pauta. Nossa pauta é impeachment”, afirmou. Para o  líder tucano, essa discussão deve vir à tona somente após o processo de  impedimento da presidente Dilma. Caso vá adiante, ele ainda defende que  a mudança só deveria valer para o próximo mandato presidencial, a  partir de 2018.

Apesar de a defesa do parlamentarismo ser  uma questão estatutária dentro do PSDB, deputados do partido afirmam que  uma minoria defende a mudança imediata do sistema de governo. Em  reservado, alguns parlamentares da sigla dizem que a mudança no atual  cenário de crise poderia parecer “golpe”. Alguns tucanos dizem ainda que  Serra tenta alavancar as discussões apenas por enxergar a proposta como  uma possível oportunidade de virar primeiro-ministro.

Propostas

No  Congresso, há PECs que instituem um novo sistema de governo no Brasil.  No Senado, o senador Aloysio Nunes apresentou no último dia 8 de março  proposta que instituiu o semiparlamentarismo. Já na Câmara, o projeto  foi apresentado em 1995 pelo ex-deputado Eduardo Jorge (então do PT-SP,  hoje PV) e estabelece a mudança para o parlamentarismo puro. A proposta  está pronta para ser votada pelos deputados, após receber parecer  favorável do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG), aprovado em 2001.

De  acordo com a PEC de Aloysio, o primeiro-ministro seria indicado pela  maioria da Câmara, que possui autoridade da administração pública. Já o  presidente da República, eleito pelo voto popular, permaneceria como o  chefe de Estado (que tem a responsabilidade de ratificar tratados  internacionais em nome do País). O sistema é semelhante ao de países  como Portugal e França, em que o presidente tem mais poderes do que num  regime parlamentarista puro.

A mudança do sistema de  governo brasileiro tem o aval de tucanos importantes, como o  ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que defendeu o regime  semiparlamentarista em artigo publicado recentemente. O vice-presidente  Michel Temer (PMDB) também já havia usado o termo no ano passado. O  Brasil foi parlamentarista entre 1961 e 1963. Em 1993, houve uma  consulta pública sobre o retorno ao parlamentarismo, mas o sistema de  governo foi rejeitado pela população no plebiscito.