No início do ano, o advogado Arthur Farache defrontou-se com um problema. Fundador da Intoo, empresa que atua como um mercado de crédito para empresas de pequeno e médio porte, ele viu os negócios minguarem. Sua companhia, lançada em 2013 como uma start-up, dedica-se a facilitar a obtenção de empréstimos para as empresas ao comparar as taxas oferecidas pelos bancos. O negócio recebeu US$ 5 milhões em aportes de investidores como o fundo Arpex, do bilionário Jorge Paulo Lemann.

No entanto, a retração da economia, a alta dos juros e a contração do crédito reduziram as oportunidades. Farache, então, procurou uma nova fonte de financiamento: as pessoas físicas, especificamente os investidores qualificados, com pelo menos R$ 1 milhão disponíveis para investir. Agora, por meio de seu sistema, um investidor abonado – e com um razoável apetite por risco – poderá ganhar emprestando dinheiro para empresas com faturamento entre R$ 1 milhão a R$ 5 milhões por mês.

“São empresas com uma necessidade constante de crédito e as que mais vem se ressentindo da diminuição da oferta de empréstimos pelos bancos”, diz Farache. Agora, a Intoo está lançando um sistema que vai aproximar empresários e investidores, algo parecido com um bolsa eletrônica de empréstimos. A meta da Intoo é facilitar a obtenção de crédito para empresas de pequeno e médio porte aumentando a visibilidade das informações. No sistema original, as empresas cadastradas tinham seus dados conferidos e analisados pelo sistema desenvolvido por Farache, e suas características eram divulgadas no sistema.

Os profissionais dos bancos poderiam pescar clientes nessa base de dados. Agora, essa possibilidade será oferecida também para investidores individuais. Como funciona? Por lei, uma pessoa física não pode emprestar dinheiro para uma empresa, esse é um privilégio restrito ao sistema financeiro. No entanto, o sistema desenvolvido por Farache permite que o investidor, sempre qualificado, aplique um mínimo de R$ 1 milhão em títulos da Intoo, e esses recursos poderão ser empregados na mais antiga e tradicional forma de crédito corporativo, o desconto de duplicatas.

Nesse sistema, o investidor compra com deságio um título que garante um pagamento futuro para a empresa. O risco é do cliente, em geral uma companhia maior. Segundo Farache, os prazos médios são de 40 dias e as taxas para o investidor podem variar de 2% a 4% ao mês, dependendo do risco oferecido pela companhia que está vendendo a duplicata. A Intoo cobra um percentual da companhia para prestar os serviços de apresentação, divulgação de informações e análise de risco. “Temos 40 mil empresas em nossa base de dados e avaliamos o risco delas por meio de uma checagem de até 400 informações”, diz ele.

Ainda restrito, o negócio deverá ser ampliado a partir do início de 2016, quando Farache vai captar recursos por meio da emissão de um fundo de direitos creditórios, cujo patrimônio vai lastrear as operações de empréstimo. “No primeiro momento, o alvo são investidores com patrimônio muito elevado e family offices”, diz o empresário. Na ponta do lápis, e sem considerar os riscos, o negócio oferece um ganho atraente. Em média, os ganhos potenciais são de 34% ao ano, o que representa pouco mais do que o dobro de uma aplicação de renda fixa convencional. Compensa buscar essa rentabilidade? Os riscos, como em todo negócio novo, são maiores do que em uma aplicação financeira tradicional.

Um deles é que não há garantias para o credor: se a companhia não honrar a duplicata, o risco é de quem a comprou. Outro é que, pelo fato de o negócio ser embrionário, há poucos investidores individuais que compram esses papéis. Dessa forma, quem quiser resgatar o dinheiro que investiu terá poucas alternativas para transferir seu risco a outro comprador. “Liquidez, que é o nome técnico para a possibilidade de você mudar de ideia, é um fator essencial na avaliação de qualquer investimento”, diz William Eid Junior, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.