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Lily Safra, a socialite e empresária milionária, que junto com o seu filho Carlos Monteverde detém 69,58% da segunda maior rede varejista do País, o Ponto Frio, resolveu colocar um ponto final a dez anos de especulação sobre os rumos societários da companhia. E surpreendeu o mercado. Em um gesto de ousadia, optou por realizar uma oferta pública de ações secundárias na Bolsa de Valores para captar recursos e pulverizar o controle da rede, a despeito da crise financeira que abala os mercados. O prospecto preliminar da operação foi protocolado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na semana passada, mas ainda assim uma dúvida crucial sobre o futuro da companhia paira no ar: de quanto de sua parcela de uma empresa avaliada em R$ 3,9 bilhões dona Lily estaria realmente disposta a abrir mão? A decisão cabe somente a ela, que hoje reina absoluta no comando.

SEGUNDA MAIOR VAREJISTA DO BRASIL PASSOU POR PROFUNDO PROCESSO DE SANEAMENTO QUE ELEVOU O SEU LUCRO EM 52,7% EM APENAS TRÊS ANOS

A viúva do banqueiro Edmond Safra tem dois caminhos. No primeiro, venderia o máximo de suas ações, pulverizando 100% do capital da companhia e transformando-a na segunda rede varejista brasileira a atuar sem controlador. O modelo, já adotado pelas Lojas Renner, diminuiria a influência da família nos negócios, mas renderia aos seus cofres algo próximo a R$ 2,8 bilhões, caso a oferta aconteça em um dia de bom humor do mercado. No outro caminho, Lily e Carlos manteriam 20% do capital total da empresa, embolsariam a bilionária quantia de R$ 1,4 bilhão e, ainda que ligeiramente menos ricos, assegurariam o controle da rede. Lily está diante de uma encruzilhada que na verdade significa escolher entre duas forças políticas que hoje convivem na rede: ao vender todas as suas ações, seguirá a estratégia defendida pelo vice-presidente do conselho do Ponto Frio, Francisco Gros, que recentemente admitiu a intenção de repetir a história de sucesso da Renner. Ao manter 20% do capital, no entanto, apoiaria a linha defendida pelo genro e conselheiro pessoal Michel Elia. Nenhum representante da empresa ou da família se pronunciou sobre o tema em obediência ao período de silêncio imposto pela CVM, mas, ao que tudo indica, Lily vai preferir seguir os conselhos familiares.

A disposição da empresária de abrir mão da totalidade de suas ações parece pouco provável para alguns analistas ouvidos pela DINHEIRO. A justificativa é simples. A reestruturação capitaneada por ela em 2003 com a então contratação de estrelas da economia brasileira como Pedro Malan e Francisco Gros para o conselho do Ponto Frio, e mais recentemente com a nomeação do ex-presidente do conselho de administração da Vivo Manoel Amorim como presidente da rede, está superando as expectativas. No ano passado, as ações da Globex, a controladora da empresa, valorizaram cerca de 40%, enquanto as ações das Lojas Americanas e da Renner alcançaram 30,32% e 19,40%, respectivamente. Os índices financeiros reforçam o retrato de uma empresa mais saneada. O número de lojas passou de 339 para 378 de 2004 para 2006, mesmo período em que o lucro líquido apresentou alta de 52,7%, fechando em R$ 59,7 milhões. As perspectivas de futuro são ainda melhores. Sob a batuta de Amorim, a empresa começa a passar por uma profunda reestruturação de posicionamento com a criação de lojas POP e TOP, voltadas às classe C e D e às classes A e B, nesta ordem. Assim, o Ponto Frio conseguiria ter uma estrutura mais enxuta, aproveitaria melhor a falta de rejeição que desfruta perante os consumidores e aumentaria suas vendas. O ciclo da fortuna voltaria a girar a favor dos Safra.

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Há também outro motivo para venda somente de parte das ações, e este tem relação com a crise americana. “Vender ações neste momento”, explica Flávio Málaga, consultor do Saint Paul Institute of Finance, “é incorrer em um grande risco de obter uma precificação aquém do esperado”. O preço das ações da Globex, assim como o percentual a ser vendido, ainda não foi divulgado, mas obter o preço cheio, neste momento, é tido como impossível. Aguardar um melhor momento para fazer nova oferta faria sentido. “Como a volatilidade está alta, a companhia pode ter o azar de, no dia do lançamento, as bolsas estarem em um dia ruim”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

A boa notícia é que uma sensação de otimismo começa a contaminar o mercado. “A economia e o crédito continuam a crescer e isso vai impulsionar o setor”, afirma Agostini. Em relatório, o Banco Santander recomenda compra de ações de varejistas brasileiras. “O Santander não vê razões para a expressiva queda dos papéis (ocorrida nas últimas semanas), fato que abre espaço para boas oportunidades de investimento nas varejistas brasileiras devido aos baixos preços em que se encontram”. Entre as cinco empresas que o Santander considera mais atrativas do segmento, no entanto, não figura a Globex. O papel mais valorizado entre as indicadas é a da B2W, maior varejista online do Brasil, fruto da fusão das Americanas. com com Submarino.com, a R$ 92,25.

A pulverização das ações pode ser o passo definitivo na atribulada história de disputa de poder no Ponto Frio. No passado, o acionista Simon Alouan travava intensa batalha com Lily Safra. Quando vendeu suas ações ao fundo Investidor Profissional, ajudou na valorização da companhia. A redução do poder da família controladora pode ter efeito semelhante. “Os benefícios do controle pulverizado são muitos”, explica Kelly Trintin, analista de investimento da SLW. “A gestão fica mais profissional, não há problemas de sucessão e a empresa só tende a crescer para gerar valor aos acionistas”.