24/02/2005 - 7:00
Os juros cobrados pelos bancos no cheque especial sempre foram proibitivos. Na semana passada, uma pesquisa realizada pelo Procon de São Paulo mostrou que a taxa média chegou a 8,12% ao mês em fevereiro, contra 8,10% em janeiro. Isso equivale a um juro de 155,11% ao ano. Só para lembrar, a taxa básica de juros (a Selic) chegou na semana passada a 18,75% ao ano. Se não bastasse o aumento, tem banco inventando uma nova maneira de cobrar o cliente que extrapola o limite. Esse é o caso do Unibanco. O banco instituiu uma cobrança batizada de Comissão de Manutenção de Crédito que só incide sobre os correntistas que entram no cheque especial. A taxa equivale a 30% dos juros pagos no mês ou a 0,29% do limite total do cheque especial. O cliente paga o valor que for menor. Para o Unibanco, não se trata de uma tarifa. Segundo o banco, o principal objetivo da comissão é o ?ressarcimento do custo e compensação de risco para manutenção da linha de crédito à disposição do cliente?, ou seja, o uso do cheque especial.
?A questão é que os bancos tornaram os clientes tão dependentes do cheque especial que muitos acabam incorporando o limite ao próprio orçamento e não conseguem se livrar dele?, afirma Miguel de Oliveira, presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Dados do Banco Central mostram que o prazo médio de utilização do cheque especial é de 20 dias. Para Oliveira, essa dependência explica por que os juros teimam em não cair. Cálculos da Anefac revelam que, de março de 1999 a janeiro de 2005, a Selic caiu 59,44%. No cheque especial, a redução foi de 53,77%. ?Tecnicamente, não há razão para essas taxas serem tão elevadas?, argumenta Oliveira. ?Mas o fato de ser um limite de fácil utilização o transforma em uma fonte de renda fácil para os bancos.? Em 2004, o valor total de empréstimos nessa modalidade somou R$ 89 bilhões. Levantamento da consultoria Partner indica que os brasileiros terminaram janeiro devendo R$ 10,6 bilhões no cheque especial, um aumento de 7,2% em relação a janeiro de 2004.
Alavancadas pelos juros, as dívidas no cheque especial crescem como uma bola de neve. Foi o que aconteceu com o casal Adriano e Luciana Kwasniewoski, de São Paulo. Adriano chegou a dever quase R$ 2 mil. Só se livrou dela quando recebeu a rescisão da empresa onde trabalhava. Aprendida a lição, o passo seguinte foi rasgar o cheque especial. Há três anos que o casal vive sem o limite. Os Kwasniewoski sabem que são minoria no universo de 65,8 milhões de correntistas do País, mas não se arrependem. ?Tive de brigar com o meu gerente, que não queria cancelar o meu cheque especial?, diz Adriano. ?Hoje compro tudo à vista e descobri que o poder de negociação é incrível quando se tem o dinheiro na mão?.
O CHEQUE ESPECIAL NO BRASIL
Número de cheques emitidos em 2004: 2,1 bilhões
Volume das transações em cheques em 2004: R$ 1,086 trilhão
Total de empréstimos pelo cheque especial em 2004: R$ 89 bilhões
Juros médios cobrados no cheque especial: 8,12% ao mês (155,11% ao ano)
CHEQUE X OUTROS FINANCIAMENTOS
Opções mais baratas
Crédito direto ao consumidor (CDC):
juros médios de 3,23% ao mês (46,44% ao ano)
Juros do comércio:
taxa média de 6,01% ao mês (101,45% ao ano)
Empréstimo pessoal nos bancos:
juros médios de 6,21% ao mês (106,06% ao ano)
Opções mais caras
Cartão de crédito:
juros médios de 10,11% ao mês (217,63% ao ano)
Empréstimo pessoal em financeiras:
juros médios de 11,67% ao mês (276,04% ao ano)
COMO SE LIVRAR DO DÉBITO
? Substitua as dívidas no cheque especial por outras modalidades como crédito pessoal
? Considere a possibilidade de vender um bem de valor, como o carro, para quitar o débito.
? É preferível sacar uma aplicação financeira do que recorrer, mesmo que por poucos dias, ao cheque especial.
? Use o cartão de crédito, sem jamais entrar no rotativo.