A Polícia Civil pediu mandados de prisão para dois dos três agressores de Osil Vicente Guedes, de 49 anos, e descartou a possibilidade de o crime ter acontecido por engano. O caso ganhou repercussão após imagens mostrarem a agressão sofrida pela vítima ao ser linchada em uma rua da cidade do Guarujá, no litoral de São Paulo. Inicialmente, cogitou-se que o ataque tivesse sido desencadeado diante de uma suspeita de roubo, possibilidade que agora foi afastada pela polícia.

“A primeira hipótese, de que ele foi agredido por roubar uma moto, foi desconstruída após o dono do veículo afirmar que a havia emprestado a Osil. Depois disso a investigação partiu para identificar os agressores”, declarou em entrevista coletiva o delegado de Polícia Seccional de Santos, Rubens Eduardo Barazal Teixeira.

Douglas Wiliam e Ailton Lima dos Santos, vulgo Yoda, são dois dos agressores que tiveram os nomes divulgados, sendo que o primeiro já tem um mandado de prisão em aberto e o segundo aguardando análise. O terceiro agressor também foi identificado e a polícia trabalha na expedição do mandado de prisão.

Segundo os policiais, Douglas Wiliam é quem golpeia a cabeça de Osil com um pedaço de madeira. Ele tem passagem pela polícia por roubo e tráfico de drogas. Ele se apresentou na delegacia-sede de Guarujá um dia após o espancamento, disse que estava no local do crime, mas nega ter agredido a vítima.

“Douglas é ex-cunhado da ex-companheira de Osil, a Vanessa. Ela já foi ouvida e afirmou que antes do dia da fatalidade acontecer, Osil foi até a sua casa, quebrou uma série de coisas, a agrediu, estava transtornado e foi embora”, relatou o delegado de Polícia da Delegacia Sede do Guarujá, Fabricio Godinho.

A polícia trabalha agora para descobrir qual a motivação do crime. “Todas as pessoas que entram no cenário de um crime são passíveis de serem investigadas. O celular da Vanessa foi retido e com certeza ela será ouvida novamente”, finalizou o delegado.

Áudio revelou espancamento anterior

O Estadão mostrou nesta terça-feira que, de acordo com os familiares, a vítima enviou um áudio aos parentes em Pernambuco informando que ela havia sido responsável por uma sessão de espancamento que ele sofreu. O áudio foi divulgado por familiares no dia do enterro do comerciante.

Essa primeira “surra” teria acontecido dois dias antes do espancamento que o vitimou. O ato de violência ocorreu após Osil procurar a ex em busca de reconciliação. Ele havia ameaçado se matar caso eles não reatassem, segundo relatou à polícia um dos irmãos da vítima, de 61 anos, que não quer se identificar. “A família quer a investigação para saber a verdade. A gente quer justiça”, diz o irmão.

Segundo parentes, os dois estavam separados havia dois meses e viviam um relacionamento conturbado, com brigas e discussões. A família confirmou que Osil tinha problemas psicológicos e fazia uso contínuo de medicamentos para depressão, agravada após a separação do casal.

“Você acredita muito na conversa de Vanessa. Ela te contou que ela chamou três traficantes para me espancar? O cunhado dela e mais dois, mais dois bandidos perigosos. Ela te contou isso?”, pergunta o comerciante em uma mensagem de áudio enviada a uma parente.

Os vizinhos, comerciantes moradores de Vicente de Carvalho, bairro onde Osil morava e trabalhava, estão chocados com o crime que aconteceu há uma semana. É uma percepção subjetiva, não há números, não há dados, mas o choque é real. As pessoas não se identificam com medo de retaliações dos autores do crime; quando falam sobre a tragédia, algumas olham para o céu ou para o chão buscando uma explicação. (Colaborou Gonçalo Junior)