Uma rejeição para uma vaga única e exclusivamente por conta da idade. Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para América Latina e África, relata que já passou por uma situação de etarismo no mercado de trabalho antes de começar a trabalhar na rede social, que chegou neste ano a 85 milhões de usuários no Brasil.

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Ao Dinheiro Entrevista, o executivo do LinkedIn relata que foi ‘um baque’ passar por isso, e que atualmente esse tipo de coisa ainda ocorre ‘com milhares de pessoas’.

“Quando eu tinha 47 anos eu não passei em um processo [seletivo] porque eu era ‘muito velho’ para o cargo. Me machucou. Eu posso conquistar uma habilidade nova, consigo fazer um curso, consigo desenvolver….mas a idade eu não consigo resolver. Faz parte de mim”.

Beck trabalha no LinkedIn Brasil desde 2012, quando a empresa iniciou sua operação no Brasil. “Fui o segundo [funcionário da empresa no país]”, conta.  Ele entrou como diretor de vendas e, desde 2016, ocupa o cargo de diretor-geral desde 2016.

A experiência com o etarismo relatada pelo executivo não está vinculada à rede social, e ocorreu em um processo seletivo para outra companhia, no passado. Ele avalia, no entanto, que hoje já há ‘um trabalho de conscientização’ para combater o etarismo. “Eu tento fazer uma parte disso com minha voz”, diz.

“Muita gente está falando sobre esse assunto, e eu acho que a sociedade está envelhecendo, as pessoas estão vivendo mais. Se a idade limite para as pessoas trabalharem é 45 anos, o que vai ser dessas pessoas? O que vai ser do mercado de trabalho?”, questiona.

Segundo executivo, ter pessoas de idades distintas trabalhando juntas é ‘algo que agrega e traz benefícios para a empresa’, já que isso uniria a visão de funcionários mais jovens com de funcionários mais velhos, que ‘já passaram por experiências que podem ajudar alguém que não passou pelas mesmas’.

“Mistura é bom, integração é bom; ter diversos pensamentos. A não homogeneidade é boa”, avalia Beck, que preferiu não revelar a idade.

Mais de 80% das pessoas com mais de 60 anos já sofreram com etarismo

A pesquisa Oldiversity, de 2024, conduzida pelo Grupo Croma, revela que 86% das pessoas acima de 60 anos já sofreram algum tipo de discriminação no mercado de trabalho, independentemente de suas habilidades ou experiências.

O levantamento mostra que a situação foi agravada durante a pandemia, quando cerca de 800 mil profissionais com mais de 60 foram demitidos ou ficaram desocupados, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Além disso, as empresas também não possuem políticas sólidas para evitar esse tipo de problema. Um estudo da Ernst & Young (EY) em parceria com a Maturi, de 2022, mostra que 78% das empresas não possuem políticas para evitar a discriminação por idade durante processos seletivos.

A maioria das companhias que respondeu à pesquisa – foram 191 o total – possuem entre 6% a 10% de colaboradores com mais de 50 anos em seu quadro.

LinkedIn soma 85 milhões de usuários no Brasil

O LinkedIn alcançou a marca de 85 milhões de usuários no Brasil em janeiro de 2025. Segundo o diretor, esse número está cada vez mais perto de representar a totalidade de brasileiros adultos que trabalham e estão no mundo corporativo. O volume de força de trabalho formal no Brasil gira em torno de 120 milhões de pessoas.

Esse crescimento consolidou o Brasil como o terceiro maior mercado da plataforma, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia.

O crescimento foi impulsionado especialmente pela Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012). A participação dessa fatia de faixa etária saltou de 2,5% há mais de uma década, em meados de 2010, para atuais 40%.

Além disso, o Brasil é estratégico para a operação global da empresa, já que o engajamento médio dos usuários brasileiros costuma estar acima da média mundial em temas como oportunidades de trabalho, artigos sobre liderança e cases de inovação corporativa.

Nesse contexto, o LinkedIn costuma escolher o Brasil com frequência para testar novas funcionalidades e campanhas na plataforma.