30/08/2000 - 7:00
Na próxima quinta-feira, 31, os técnicos da Procergs, a Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul, irão desativar o Microsoft Office de todos os seus micros. A partir do dia 1º de setembro, vão instalar programas gratuitos que operam com o sistema operacional Linux. Nada de Microsoft. Além disso, os aplicativos de agenda e de correio eletrônico serão trocados pelo Direto, um programa elaborado pela própria empresa também com base no Linux. O programa foi apresentado durante a 9ª Comdex, a feira de tecnologia que terminou em São Paulo no último dia 25. ?Queremos soluções baratas. Com essa substituição, estaremos fazendo uma economia de mais de R$ 10 milhões?, afirma Marcos Vinicius Mazoni, diretor-presidente da Procergs. ?Vamos desenvolver programas locais e não teremos de pagar royalties para ninguém.?
Atitudes similares à da Procergs vêm sendo empregadas por empresas públicas e privadas em todo o mundo. No Brasil, a Sulfabril, a Duchas Corona, o Yahoo e diversos bancos já utilizam o sistema Linux. Nas lojas Renner, dos caixas ao departamento de Recursos Humanos, tudo também é movido à Linux. Criado em 1991 pelo finlandês Linus Torvalds, esse sistema operacional para rede de computadores, que compete com o Windows NT da Microsoft, pode ser obtido com facilidade na Internet. E não se paga nada por ele. Qualquer um pode entrar num site, copiar o arquivo no seu micro pessoal e até mesmo aperfeiçoá-lo. Com uma única condição: finda a mudança, o autor deve partilhar com o mundo as mudanças que fez, também de graça. Com isso, a todo momento surgem novos aperfeiçoamentos do Linux, um somando-se ao outro em escala mundial, e no final das contas o sistema acaba falhando menos. Essa estabilidade foi um dos principais atrativos para que diversas empresas alocassem o software representado pelo pingüim em seus servidores de rede. No mundo todo, o Linux já conquistou 25% dos servidores, uma penetração que o instituto de pesquisa americano IDC esperava que fosse alcançado apenas em 2003.
?Todos os dias temos empresas migrando para essa plataforma?, diz Paulo Ricardo Bruck, gerente comercial da Conectiva, uma empresa paranaense que ganha a vida com guias de instalação, consultoria e treinamentos para usuários de Linux. Nos computadores de mesa, o sistema ocupa a terceira posição, com menos de 5% dos desktops, mas o quadro pode mudar. No ano passado, os cinco maiores fabricantes de servidores, IBM, Hewlett-Packard, Sun Microsystems, Dell Computers e a Compaq, já anunciaram que vão vender máquinas previamente carregadas com o Linux. E há duas semanas a IBM foi ainda mais além e firmou um acordo com o maior distribuidor de Linux nos Estados Unidos, a Red Hat. Juntas, elas estarão colocando no mercado programas que vão casar perfeitamente com o Linux, mas vão recusar relacionamento muito próximo com o Windows98 ou com WindowsNT, da Microsoft. Numa demonstração de que a coisa é para valer, a IBM apresentou, durante a última Comdex, o servidor S/390, voltado para bancos e grandes empresas, rodando inteiramente num ambiente de software livre.
O movimento também alcançou a indústria de software. Este ano, a fabricante de aplicativos Corel colocou no mercado uma versão para Linux do Wordperfet Office, similar ao pacote da Microsoft, em português. No primeiro semestre do ano que vem a companhia pretende lançar um programa para trabalhar com imagens, o Coreldraw, em português para Linux. Então o Linux vai ganhar novas fatias do mercado? Não exatamente. ?Daqui a cinco anos, haverá trezentas opções além dos tradicionais computadores de mesa. Eles estarão operando ligados à Internet, em diferentes plataformas?, diz Jean Paul Jacob, gerente do Centro IBM de Pesquisas em Almaden, na Califórnia. Serão relógios de pulso, geladeiras, roupas, máquinas de lavar, livros eletrônicos, palmtops e outros tantos. Funcionarão com o Windows, com o Linux ou com qualquer outro sistema que ainda não foi inventado. Logo, qualquer notícia sobre o triunfo inevitável do Linux é claramente precipitada.