No ano passado, enquanto os investidores temiam os efeitos colaterais da crise no segmento subprime nos Estados Unidos, muitos davam de ombro e, até mesmo, brindavam. Não estavam preocupados com o discurso de Bem Bernanke, presidente do Federal Reserve, ou com as bilionárias perdas dos bancos americanos. A tensão dessa diferenciada turma de investidores passava por Maryland, nos Estados Unidos, e o homem que poderia decidir os ganhos e as perdas com uma simples canetada é um notório beberrão. Robert Parker, o homem mais poderoso do mundo do vinho é quem influencia o mercado internacional da bebida e, no ano passado, suas notas renderam bons lucros para quem escolheu os investimentos corretos. Basta ver que, em 2007, o London International Vintage Exchange (Liv-ex 100), fundo de investimentos atrelado aos principais vinhos do mundo, atingiu uma valorização de 38,9%. No mesmo período, o Standard & Poor?s 500, que reúne as 500 maiores empresas dos Estados Unidos, alcançou valorização de 4,4%. Mais: alguns ícones de Bordeaux, como o Lafite Rothschild 2000, cuja caixa era vendida a US$ 9,4 mil, no início do ano passado, fechou 2007 cotada a US$ 18 mil. Os números mostram que o vinho, apesar de exótico, pode, sim, ser um bom investimento.

O principal segredo é comprar os rótulos franceses, principalmente os de Bordeaux, cujos exemplares são tradicionais, preferidos de Parker e evoluem com o passar dos anos. A carteira do Liv-ex 100 serve como exemplo. Dos 100 vinhos incluídos no portfólio, 93,4% são tintos de Bordeaux, 1,01% são brancos de Bordeaux, 1,24% tintos da Borgonha, 2,98% de Champagne, 0,81% do Rhone e 0,55% da Itália. ?É arriscado como todo investimento?, diz Arthur Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo (ABSSP). ?Mas os vinhos de Bordeaux e da Borgonha são sempre os mais seguros.? Antes de sair comprando, entretanto, o ideal é procurar a ajuda de especialistas e tentar adquirir rótulos em primeur, antes mesmo de eles serem lançados no mercado. Importadoras como a Expand e a World Wine La Pastina fazem isso com vinhos da Borgonha e de Bordeaux. ?Vendemos mais de 300 rótulos de Bordeaux?, diz Matthieu Peluchon, gerente de vendas da World Wine. ?Quando as garrafas chegam ao mercado, podem custar de 30% a 100% mais caro.?

Os rendimentos dependerão, obviamente, da safra e das notas de Parker. Muitas vinícolas preparam os vinhos de acordo com o gosto de Parker para ganhar pontos. Isso, apesar de ser muito criticado, é crucial. Estima-se que uma pontuação que oscile de 85 para 95 pode representar um faturamento de 7 milhões de euros para uma vinícola. Um vinho com 100 pontos, então, é sinônimo de lucro. O exemplo mais notório é o do vinho californiano Screaming Eagle, de 1997, que chegou ao mercado valendo US$ 125. Depois de receber a pontuação máxima, alcançou US$ 2,5 mil. Como um investimento como esse não pode ser guardado em casa ou no banco, existem casas, nos Estados Unidos e em Londres, que armazenam os vinhos em adegas climatizadas para o investidor. O ideal, dizem os especialistas, é comprar as bebidas, guardá-las e revendê-las depois de três anos. É o tempo de maturação e valorização no mercado. Se o valor não subir, o consolo que resta é abrir a garrafa e beber tudo.