28/11/2007 - 8:00
Na semana passada, mais um apetrecho concebido para filmes de ficção científica tornou-se realidade. Que o diga o sr. Spock, de Jornada nas Estrelas. Depois de três anos de desenvolvimento, a gigante do varejo virtual Amazon lançou seu primeiro leitor de livros digitais, o Kindle. Do tamanho de um livro de bolso convencional e pesando apenas 300 gramas, o aparelho tem capacidade para armazenar 200 títulos, oferece acesso a e-mail, blogs e assinaturas de 88 mil jornais, revistas e obras literárias, e ainda vem com um cartão de memória expansiva. Mais: ao contrário dos leitores lançados anteriormente por fabricantes como Sony, Hitachi e Matsushita, que só baixavam arquivos se estivessem conectados a um computador, o Kindle opera com redes de dados EVDO sem fio, que dispensam a necessidade de cabos de acesso à internet. Representantes da empresa falam com toda seriedade, quando apostam no fim dos pesados volumes de papel. E, para convencer o público, a Amazon não poupou esforços no conforto do usuário durante a leitura. A tela, por eles chamada de ?papel eletrônico?, tem alta resolução e utiliza partículas reais de tinta eletrônica (a e-ink), que não cansa a vista. ?O nosso objetivo é que o aparelho desapareça nas suas mãos?, afirma Jeff Bezos, fundador e presidente da Amazon.
O que torna o lançamento tão importante é o fato de o Kindle ser uma concepção da pioneira mundial do comércio eletrônico, a Amazon, a empresa que construiu a ponte entre o livro e o mundo digital, e estabeleceu o padrão mais tarde seguido por outras bandeiras de sucesso, como o site brasileiro Submarino. ?As ações da Amazon já subiram 99% este ano. Analistas dizem que isso se deve, em parte, ao sucesso de Bezos em adicionar conteúdo digital, como filmes e música, à mistura de eletrônicos com livros de papel?, avalia Brian Caulfield, colunista de tecnologia da revista Fortune. O mercado editorial movimenta US$ 35 bilhões no mundo ? e é nisso que Bezos está de olho. Mas nem tudo são flores. Para alguns especialistas, a profecia de Bezos de acabar com a leitura impressa é, no mínimo, exagerada. Em primeiro lugar, porque o aparelho não é competitivo com os livros tradicionais no preço. Estréia pela ?bagatela? de US$ 399 (cerca de R$ 700). Depois, porque o uso da tecnologia EVDO praticamente se limita ao território norte-americano. O usuário tupiniquim menos avisado compraria o Kindle apenas para cair no vácuo cibernético. Isso sem falar que os laptops compactos mais modernos, assim como o iPhone, da Apple, já oferecem serviços de internet. ?Isso é mais um canal. Vão vender livros eletrônicos, como se vendem livros físicos. As mídias não acabam?, defende Sérgio Milano, dono da Nobel, a maior rede de livrarias do Brasil. ?O aparelho é caro e não consegue ser amigável como um livro. Imagine usar na praia, com todo aquele sal e areia.?
Milano acredita que o mercado de e-books no Brasil ainda é incipiente e que iniciativas como o Kindle, embora fascinantes, não se justificariam comercialmente por aqui. ?Há três anos, abrimos a e-Editora, uma sociedade da Nobel com a L ivraria Cultura para a venda de livros eletrônicos. Desativamos dois anos mais tarde porque não havia mercado no País. O volume não compensa?, conta. As congêneres norte-americanas vivem outra realidade. Já se ventila na imprensa internacional que gigantes como a Barnes & Noble se preparam para disponibilizar acervos inteiros na internet e criar seu próprio leitor eletrônico. É uma forma de garantir a sobrevivência a longo prazo num mercado em transformação.