27/11/2025 - 9:00
De olho no crescimento expressivo do mercado chinês com o live commerce – venda de produtos em transmissões ao vivo – e a tendência impulsionada pelo TikTok Shop, agências e empresas brasileiras vislumbram no modelo uma estratégia relevante que deve gerar receita e oportunidades no Brasil.
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Bazinho Ferraz, fundador e presidente da Atmosphera&Partners.Co e Biosphera.ntwk – antigas B&Partners e B&P Ventures – avalia que o modelo tem ‘explodido’ para todas as categorias de venda.
O formato se tornou tão promissor que uma das empresas dentro do guarda-chuva da holding, a rede de canais Snack Content, abriu uma vertical dedicada inteiramente ao live commerce. A toada vai de encontro à cultura dos influencers, que é presente no Brasil e faz brilhar os olhos das marcas.
“Eu diria que nessa parte de vendas, a mistura do D2C (Direct-to-Consumer), nos marketplaces que sabem trabalhar o retail media e toda a parte de live shop, ou seja, toda a parte de vendas, é a tendência de sofisticação e de mudanças que está sendo trazida”, conta Ferraz.
Na avaliação de Ferraz, aliás, o marketing de influenciadores não está saturado, apenas tem sofrido transformações. Com essa nova possibilidade para gerar leads e vendas, o Brasil tem uma avenida de crescimento para o nicho, dado que o empresário relata que a China, atual benchmark dessa prática, é cerca de quatro vezes maior que o mercado doméstico em live commerce.
Por que a indústria adora live commerce
O Live Commerce (ou shopstreaming, live shop) não é nada mais do que a fusão entre streaming de vídeo ao vivo e e-commerce – uma estratégia de vendas na qual uma marca realiza uma transmissão ao vivo para demonstrar produtos, tirar dúvidas e interagir com a audiência, permitindo que o cliente compre o produto instantaneamente, muitas vezes sem sair da tela do vídeo.
O modelo se torna atrativo para as companhias à medida que gera um senso de urgência com gatilho de escassez, dando vazão a ofertas exclusivas da live e encurtando a jornada de compra.
Como há uma pessoa como host da transmissão, também há o fator da humanização, aproximando a marca do consumidor, quebrando a frieza de uma loja virtual estática.
Enquanto o e-commerce tradicional tem taxas de conversão médias de 1% a 2%, o Live Commerce pode chegar a taxas de 10% a 30% dependendo do engajamento, segundo estudos da McKinsey & Company.
Como a China se tornou ‘mãe’ do modelo e o que isso significa para o Brasil
A China é o berço e o maior mercado de live commerce do mundo. No dragão asiático, comprar via livestream tem se tornado cada vez mais comum, quase tanto quanto ir ao supermercado.
Isso, dado que o mercado chinês movimenta centenas de bilhões de dólares anualmente através de plataformas como Taobao Live (do Alibaba) e Douyin (o TikTok chinês). Em eventos como o “Singles’ Day”, bilhões de dólares são vendidos em questão de minutos.
Há, nesse sentido, o Papel dos KOLs (Key Opinion Leaders), figuras de influenciadores que chefiam esse movimento. São celebridades massivas e possuem uma confiança extrema do público.
Existe um ecossistema completo, com academias para treinar influenciadores em vendas – vide o exemplo icônico de Austin Li, conhecido como “Rei do Batom”, que vendeu US$ 1,7 bilhão em produtos em uma única live de 12 horas.
No WeChat é possível assistir, conversar, pagar e rastrear o pedido sem nunca trocar de aplicativo, o que fortalece muito o vínculo com o influenciador.
O modelo, assim, se torna promissor no Brasil dado que o país é considerado um dos mais hiperconectados do mundo. O relatório Global Digital Report cita o Brasil como um dos três países do mundo em que se passa mais tempo na internet. O brasileiro médio dedica mais de 9 horas por dia conectado, conforme os dados – e dessas nove horas, a maior fatia fica com as redes sociais.
Um estudo da Nielsen também destaca o Brasil como o país com o maior número de influenciadores digitais do Instagram per capita, apontando que se trata de um dos pouquíssimos lugares em que a categoria de creators tem mais relevância e engajamento do que celebridades tradicionais, como atores de TV.
B&Partners dá lugar à Biosphera.ntwk. e Atmosphera&Partners.Co
A B&Partners passa por uma reorganização que marca uma nova etapa do grupo. Após seis anos de operação e faturamento global que já supera R$ 1,3 bilhão em 2025, a empresa apresenta a gestora Atmosphera&Partners.Co e adota uma nova marca para sua rede: Biosphera.ntwk.
O anúncio redefine a estrutura do ecossistema criado pelo empresário Bazinho Ferraz, que agora amplia sua atuação no mercado de capital e no desenvolvimento de negócios.
O grupo, anteriormente focado na integração de empresas independentes, reúne 16 companhias, mais de 1.350 profissionais e uma base de clientes distribuída em oito países. A rede opera conectando áreas de tecnologia, dados, criatividade e consultoria.
A Atmosphera&Partners.Co inicia suas atividades com um modelo voltado à criação de FIPs, VCs e FIDCs, além de estruturar operações de M&A no Brasil e no exterior. A gestora passa a formar um hub que conecta investidores, empresas e startups em diferentes fases de maturação, com foco em originação de oportunidades e gestão de ativos.

Parte desse escopo inclui a BIOS, área interna responsável por soluções em tech, finanças, jurídico, estratégia e M&As. A gestora também incorpora uma fintech própria em formato Banking as a Service, com serviços como crédito, antecipação de recebíveis, venture bridge, cartões e conta digital.
Entre os investimentos já realizados estão participações na DataBeats, que atua com análise de dados por meio de agentes de IA, e na Postmetria, que monitora reputação e experiência do consumidor. A gestora posiciona esses aportes como exemplos da estratégia de unir capital, inovação e expansão de negócios.
Já a Biosphera.ntwk passa a assumir o lugar da B&Partners como marca que representa toda a rede de empresas. O desenvolvimento da nova identidade envolveu Estúdio Eixo, Ampfy e MAAR, que criaram um sistema visual baseado na ideia de redes interligadas e estruturas em movimento.
A Atmosphera&Partners.Co também adota um conceito alinhado à ideia de camadas que envolvem a biosfera. A metáfora reforça a função da gestora como plataforma que sustenta empresas e investimentos dentro do ecossistema.
Nos próximos meses, a Biosphera.ntwk planeja ampliar sua presença internacional e analisa aquisições em áreas de tecnologia e CRM. Outro ponto em desenvolvimento é a criação de um campus em São Paulo, previsto para concentrar atividades de inovação e colaboração.
Toda a operação passa a seguir um direcionamento AI First, integrando inteligência artificial em processos, produtos e modelos operacionais. A rede avalia essa abordagem como essencial para análises mais rápidas, previsões contínuas e criação de soluções conectadas a múltiplos mercados.
A rede oferece mais de 120 soluções organizadas em quatro eixos: Tech, Marketing, Sales e Consulting. As disciplinas incluem dados, IA, automação, mídia, influência, varejo, operações, estratégia, foresight e ESG.
As 16 empresas que compõem a Biosphera.ntwk mantêm atuação própria, mas operam em colaboração. Entre elas estão
- Ampfy
- BFerraz
- Estúdio Eixo
- Global Products
- Just a Little Data
- Just Live
- New Vegas
- Next Outsourcing
- Nossa Praia
- PlugIn
- Score
- Snack Content
- SPONS
- Vitrio
- DataBeats
- Postmetria
Bazinho Ferraz, fundador do grupo, afirma que o novo formato consolida um ciclo iniciado anos atrás, que combina criação de startups, operações de M&A e expansão contínua.
“Crescemos como poucos nos últimos anos, criamos startups e aceleramos empresas que fizemos M&A com uma média de crescimento de 32% ao ano, construímos a maior oferta de soluções end-to-end da América Latina e atendemos as maiores empresas do mundo em diversos setores e indústrias. Agora, damos um passo ainda maior com a estruturação de um veículo, a Atmosphera&Partners.Co para conectar capital e acelerar a próxima fase de crescimento”, afirma.
