13/12/2022 - 14:31
Por Kevin Liffey
LONDRES (Reuters) – O romance distópico “1984”, de George Orwell, ambientado em um futuro imaginado em que governantes totalitários privam seus cidadãos de todo livre arbítrio para manter o apoio a guerras sem sentido, chegou à liderança das listas eletrônicas de livros mais vendidos na Rússia.
O romance é o download de ficção mais popular de 2022 na plataforma da livraria online russa LitRes, e o segundo download mais popular em qualquer categoria, informou a agência de notícias estatal Tass nesta terça-feira.
O romance do autor inglês foi publicado em 1949, quando o nazismo acabava de ser derrotado e a Guerra Fria do Ocidente com seu antigo aliado Josef Stalin e o bloco comunista soviético que ele agora liderava estava apenas começando. O livro foi proibido na União Soviética até 1988.
Orwell disse que usou a ditadura de Stalin como modelo para o culto à personalidade do Big Brother que tudo vê, cuja “polícia do pensamento” força os cidadãos a se envolverem em “duplipensar” para acreditar que “Guerra é paz, liberdade é escravidão”.
Mas alguns veem ecos contemporâneos no governo do presidente russo, Vladimir Putin, que tem erradicado a oposição política e a mídia crítica da esfera pública em suas duas décadas no poder, além de reabilitar a memória de Stalin.
A invasão russa da Ucrânia em fevereiro levou a novas leis que tornam crime publicar qualquer informação sobre a guerra que esteja em desacordo com as declarações oficiais. O Kremlin evita a própria palavra “guerra”, referindo-se, em vez disso, como “operação militar especial”.
Autoridades em Moscou continuam a afirmar que a Rússia não tem maldade em relação à Ucrânia, não atacou sua vizinha e não está ocupando territórios ucranianos que tomou e anexou.
No entanto, a tradutora russa de uma nova edição de “1984” vê paralelos do romance de Orwell em outro lugar.
“Orwell não poderia ter sonhado em seus piores pesadelos que a era do ‘totalitarismo liberal’ ou ‘liberalismo totalitário’ viria do Ocidente, e que as pessoas –indivíduos separados e bastante isolados– se comportariam como um rebanho furioso”, disse Darya Tselovalnikova à editora AST em maio.