O lobista Marcel Júlio afirmou em delação premiada à  Procuradoria-Geral de Justiça que o deputado Fernando Capzez (PSDB),  presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, recebeu R$ 450 mil  para sua campanha à reeleição em 2014.

Em troca, o tucano  teria intercedido em favor da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar  (Coaf), acusada pelo Ministério Público de fraudar licitações da merenda  em dezenas de prefeituras e que mirava ainda contratos da Secretaria de  Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

A integra da  delação de Marcel Júlio foi divulgada pelo repórter Walace Lara, no  ”SPTV Segunda Edição” da Rede Globo desta segunda-feira, 10. São 23  páginas de relato prestado a um procurador de Justiça, a três promotores  e a um delegado da Polícia Civil do Estado.

O depoimento  do lobista foi tomado no dia 1º de abril. Marcel contou que, em 2014,  foi procurado pelo presidente da cooperativa, Cássio Chebabi. Segundo o  delator, Chebabi lhe disse que a Coaf venceu chamada da Secretaria da  Educação do Estado para um contrato de R$ 10 milhões.

O  lobista procurou, então, Licá Gutierrez, assessor de Capez, no  escritório político do parlamentar à Rua Tumiaru, perto da Assembleia.

Ele  contou que uma vez foi atendido pelo próprio tucano. Marcel Júlio  afirma que o deputado, à sua frente, ligou para o então chefe de  gabinete da Educação de Alckmin, Fernando Padula, e foi informado que o  edital havia sido cancelado por erro da secretaria.

Ainda  segundo o lobista, Capez “esfregou indicador e polegar das duas mãos,  rindo”. “Não esquece de mim, hein, estou sofrendo em campanha”, teria  dito o presidente da Assembleia Legislativa. Para o lobista, o gesto de  Capez significava que ele “queria dinheiro”.

Duas semanas  depois, Jéter Rodrigues, que também trabalhava com Capez, o chamou no  gabinete do deputado, na Assembleia. Segundo Marcel Júlio, o assessor  lhe disse que precisava de carros para a campanha de Capez. E que depois  de uma nova chamada da Educação, em 21 de agosto daquele ano, Jéter o  chamou e disse. “Agora, precisamos falar em valores.”

Segundo  Marcel, o acerto foi fechado, 2% do valor do contrato para Jéter e R$  450 mil para a campanha de Capez. Ele diz ter ouvido uma advertência: se  não honrasse o combinado, os pagamentos do Estado seriam “bloqueados”.  Um dos pagamentos, ele afirmou, no valor de R$ 20 mil, foi realizado  dentro da Assembleia Legislativa a um assessor de Capez.

Defesa

O  deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de  São Paulo, nega taxativamente ter recebido valores ilícitos da  organização criminosa que fraudava licitações da merenda escolar.

Quando  a Operação Alba Branca foi deflagrada e seu nome citado nas  investigações, o próprio parlamentar abriu mão espontaneamente do sigilo  bancário e fiscal. “Essa delação é de abril, foi requentada. No último  depoimento ao Tribunal de Justiça ele (Marcel Júlio) diz que jamais  tratou de dinheiro comigo, e que nem tinha intimidade para tanto. E  mais, este trecho da delação não foi confirmado por nenhuma testemunha.  Além disso, (Fernando) Padula diz que jamais recebeu ligação minha”,  disse o deputado.