SÃO PAULO (Reuters) – As montadoras de veículos instaladas no Brasil tiveram forte crescimento de vendas e produção em março ante fevereiro e também na comparação anual, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pela associação que representa o setor, Anfavea, que citou desempenho puxado por locadoras enquanto o varejo segue reprimido.

+ Frota total das locadoras atinge 1,37 milhão de unidades, diz Abla

+ Volkswagen anuncia primeira fintech do setor automotivo no Brasil

Enquanto a produção do mês passado saltou 37,3% na comparação com fevereiro, as vendas avançaram 53,1%, na mesma relação, para cerca de 222 mil e 199 mil unidades, respectivamente. Ante março de 2022, a produção cresceu 20% e os emplacamentos avançaram 35,5%.

No acumulado do primeiro trimestre, a indústria produziu 536 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, um crescimento de 8% sobre os três primeiros meses de 2022. Já os licenciamentos subiram 16,3%, para 471,8 mil veículos.

Os dados foram divulgados em um momento em que algumas montadoras no país fazem ajustes de produção, citando entre os fatores demanda fraca e problemas com oferta de componentes. Na semana passada, por exemplo, a fábrica de chassis de ônibus e caminhões da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP) anunciou que irá reduzir de dois para um os turnos de produção a partir de maio.

Segundo a Anfavea, apesar dos números positivos de março, a produção acumulada no primeiro trimestre ainda está cerca de 50 mil unidades abaixo dos níveis pré-pandemia.

“A fotografia do momento seria pior se não fossem as boas vendas para locadoras em março, 28% do total. Essas empresas ainda têm uma considerável demanda reprimida”, afirmou em comunicado à imprensa o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.

O executivo afirmou que nos três primeiros meses de 2023 o setor acumulou oito paralisações de fábrica e dois cancelamentos de turno, “algo semelhante às paradas verificadas no início de 2022”.

“A diferença é que no ano passado o motivo era somente a falta de componentes, enquanto agora já há outros fatores provocando férias coletivas, como o resfriamento da demanda”, comentou.

Em comentários a jornalistas, o presidente da Anfavea afirmou que as vendas para locadoras de veículos em março saltaram 93% sobre um ano antes, passando a representar cerca de 40% do crescimento total do mercado.

Segundo ele, as vendas do setor estão 30 mil unidades abaixo do projetado para o ano, mas não seria momento para rever as projeções, “pois o mercado tem condições de reagir”.

As montadoras esperam que as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos em 2023 cresçam 3%, para 2,168 milhões de unidades, um patamar considerado pelo presidente da associação que representa o setor, Anfavea, como baixo diante da capacidade de produção de 4,5 milhões de veículos por ano. Em 2022, os licenciamentos caíram 0,7%, a 2,1 milhões de unidades.

O setor terminou março com estoque de 203,9 mil veículos a espera de comprador ante 189,2 mil em fevereiro. O volume de março é suficiente para 31 dias de vendas, algo que Leite afirmou que é um patamar baixo ante o cenário pré-pandemia.

Questionado sobre medidas do governo para ajudar as vendas do setor, o presidente da Anfavea comentou que uma eventual liberação de recursos do FGTS para compra de carro novo “teria efeito muito grande para o mercado”. Os recursos do FGTS são uns dos principais usados para o financiamento do setor imobiliário.

Em janeiro, um projeto foi apresentado na Câmara dos Deputados para permitir que o trabalhador saque o saldo disponível do FGTS para a compra de veículo novo ou usado, segundo dados da Agência Câmara.

Sobre discussões do governo federal como setor para redução de preços dos veículos, Leite afirmou que o assunto ainda está sendo debatido e que, para ele, o problema maior é a renda pressionada da população.

 

(Por Alberto Alerigi Jr.)

tagreuters.com2023binary_LYNXMPEJ390G6-BASEIMAGE