Muitas pessoas relataram que, durante as primeiras ondas da pandemia de Covid-19, quando as medidas de restrição de governos do mundo todo impediam a população de sair de casa, sentiram que o isolamento afetou negativamente a saúde mental. No entanto, uma pesquisa mostrou que em países em que o lockdown foi mais rigoroso, o efeito foi o oposto.

Segundo um estudo publicado no Journal of Psychiatric Research, países com regras de confinamento mais duras tiveram menos pesquisas relacionadas a doenças mentais na internet durante a pandemia.

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Em 2020, cada país lidou de uma maneira para conter a transmissão do coronavírus. Em alguns lugares, as pessoas foram encorajadas a ficarem em casa, as escolas foram fechadas e as empresas também. 

Esse movimento fez com que a internet se tornasse a principal fonte de informação de quem estava com receio até mesmo de procurar ajuda médica. O estudo, portanto, mostra o que as pesquisas feitas no Google podem revelar sobre a saúde mental de populações de diferentes países, baseado no grau de confinamento de cada local.

Análise de pesquisas no Google

Foram usados dados de nove países: Hungria, Índia, África do Sul, Irã, Itália, Paraguai, Espanha, Sérvia e Turquia. Os termos de pesquisa analisados foram “ansiedade”, “depressão”, “suicídio” e “saúde mental”. Os dados foram coletados ao longo de 5 anos de buscas. 

Os pesquisadores ainda usaram informações sobre como cada país reagiu às medidas de bloqueio para conter a Covid-19, compiladas do Oxford Covid-19 Government Response Tracker. Além dos dados de medidas de segurança, o número de mortes de covid-19 em cada país também foi avaliado.

Os resultados mostraram que, no geral, a duração, o rigor e as políticas de bloqueios estavam associados a um volume mais baixo de pesquisas no Google por termos relacionados à saúde mental. 

Há várias nuances que apontam essa relação. A palavra “ansiedade”, por exemplo, era um termo cada vez mais pesquisado enquanto os casos de Covid-19 aumentavam antes dos lockdowns serem colocados em prática. O termo “depressão” foi buscado menos em países com políticas de bloqueio mais rigorosas.

Essas relações não eram apenas gerais, mas também quando analisados países com políticas específicas. “Ansiedade” foi digitada no Google cada vez menos em locais que impuseram bloqueios mais rigorosos e “depressão” teve menor volume de buscas em países onde eventos públicos foram cancelados. Por outro lado, o termo “depressão” foi procurado com mais frequência em países que tinham políticas que exigiam o fechamento das escolas.

“Em resumo, este estudo fornece mais evidências demonstrando o potencial do Google Trends, para que a ferramenta seja alavancada como fonte de dados para entender como populações em diferentes partes do mundo podem ser afetadas por medidas de saúde pública (incluindo lockdowns) que são implementadas em resposta a uma crise global de saúde”, escreveram os pesquisadores. 

“Nossos achados poderiam ser usados juntamente com outras evidências (por exemplo, estudos de vigilância da saúde mental) para o desenvolvimento de estratégias de confinamento sensíveis às necessidades de saúde mental de pessoas que vivem em diferentes partes do mundo durante futuras crises de saúde pública”, conclui o estudo.

Apesar da relevância do estudo para entender melhor como as políticas de confinamento afetaram as pesquisas de saúde mental da população global, ainda há algumas limitações a serem pontuadas, dizem os pesquisadores.

Uma delas é que o Google Trends não explica a razão pela qual as pessoas estavam procurando por esses termos, o que dificulta afirmar se elas estavam mesmo tendo esses sintomas ou fazendo pesquisas por outro motivo. Além disso, os termos foram traduzidos para a palavra equivalente mais popular em cada país, o que significa que as pessoas poderiam estar procurando sobre o mesmo assunto mas usando um sinônimo e não foram contadas na pesquisa.

“Pesquisas adicionais são necessárias para basear-se nas descobertas deste estudo, como por exemplo, se essas associações mudam de acordo com as taxas de vacinação ou o aumento de novas variantes SARS-CoV-2”, observaram os autores.