O Brasil assistiu a mais um espetáculo lamentável de precariedade da malha logística do País. Um mero acidente no trem de pouso de uma aeronave foi capaz de paralisar por quase dois dias – intermináveis 46 horas – um dos maiores aeroportos nacionais, o de Viracopos, no interior paulista, com efeitos em cascata de norte a sul. Mais de 500 voos cancelados. Vinte e cinco mil passageiros prejudicados. Uma companhia aérea, a Azul – sem nenhuma responsabilidade direta no caso –, afetada pesadamente em sua imagem e sistema por não poder decolar seus aviões. E os responsáveis, como sempre, fingindo que não era com eles. 

 

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Autoridades aeroportuárias se depararam com a constatação prosaica de que faltam equipamentos adequados para solucionar, com agilidade, incidentes do tipo. Mais grave: admitiram que (no País inteiro!) existe apenas uma única máquina “recovery kit” para as tais remoções. E ela não é do Estado. Pertence a uma empresa privada, a TAM, que tem, claro, suas prioridades de uso. No entroncamento de Viracopos passam por ano mais de sete milhões de passageiros. Ele é um dos oito maiores aeroportos do País. E, naturalmente, com a proximidade de eventos internacionais como a Copa e a Olimpíada, vai multiplicar enormemente esse seu movimento. Pois bem, Viracopos, a exemplo de boa parte da malha aeroviária que atende o Brasil, possui apenas uma pista. 

 

Qualquer evento, por menor que seja ele, é capaz de interromper sua operação e interditar o tráfego. Perceba o alcance do drama, que tem reflexos sistêmicos nacionalmente. Eis ali o retrato acabado da fragilidade, do atraso e da incompetência que regem as atividades na área. Não há explicação razoável, desculpa de nenhuma espécie – ou soluções de curto prazo – capaz de atenuar a gravidade da situação. O Brasil empurra com a barriga o caos aéreo como se fosse esse um assunto passível de adiamentos. O festival de incompetência deixa atônitos aqueles que dependem desse transporte. Mas causa ainda maior estupor no resto do mundo, onde ninguém é capaz de imaginar que uma nação emergente, em plena ascensão para o clube dos ricos, legue a seus cidadãos tamanho descaso.