30/11/2020 - 8:11
Londres iniciou uma investigação pública nesta segunda-feira (30) para determinar o papel da poluição atmosférica na morte, há oito anos, de uma menina que morava perto de uma estrada muito movimentada da capital da Inglaterra, um caso que pode estabelecer um precedente.
Ella Adoo-Kissi-Debrah, que na época tinha nove anos, faleceu em 15 de fevereiro de 2013 vítima de uma grave crise de asma, depois de quase três anos de ataques repetidos e de mais de 30 hospitalizações relacionadas com a doença.
Uma investigação inicial de 2014 determinou que ela foi vítima de insuficiência respiratória aguda causada por asma severa. Mas os resultados foram revertidos em 2019 e uma nova investigação foi determinada após o surgimento, um ano antes, de mais evidências sobre os riscos provocados pela poluição do ar.
A segunda investigação judicial, que começa nesta segunda-feira e deve ter duração de duas semanas, examinará os níveis de contaminação, aos quais Ella foi exposta e determinará se provocaram sua morte.
Se o legista, responsável por identificar a razão do falecimento, concluir que a poluição atmosférica provocou diretamente a morte da menina, a decisão estabeleceria um precedente. Ella seria a primeira pessoa no Reino Unido a ter a contaminação do ar como causa de morte conhecida.
– “Vínculo evidente” –
A menina morava a menos de 30 metros da South Circular, uma rodovia de muito tráfego e frequentemente congestionada do sul de Londres.
Em 2018, o professor Stephen Holgate, um especialista britânico em poluição atmosférica, apontou um “vínculo evidente” entre as internações de Ella nas emergências de hospitais e os picos registrados de dióxido de nitrogênio (NO2) e de partículas em suspensão (PM), os poluentes mais prejudiciais.
A investigação examinará as possíveis falhas das autoridades na adoção de medidas para reduzir a poluição e informar a população sobre os riscos para a saúde.
Funcionários dos ministérios dos Transportes, Meio Ambiente e Saúde serão interrogados, assim como o professor Holgate.
A mãe de Ella, Rosamund Adoo-Kissi-Debrah, prestará depoimento na segunda semana.
“Passaram-se quase oito anos desde a morte de Ella e tem sido uma luta difícil e longa para conseguir esta investigação, com obstáculos no caminho. Quero justiça para Ella e quero que a verdadeira causa de sua morte esteja escrita em sua certidão de óbito”, afirmou Rosamund em um comunicado.
“Era a vida e a alma da nossa casa, estava sempre tocando música, dançando com minha outra filha, Sophia. Teve muita influência nos irmãos mais novos”, completou a mãe.
Sua advogada, Jocelyn Cockburn, considerou a nova investigação uma “vitória importante”.
De acordo com dados da prefeitura de Londres, 99% da cidade supera os limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a poluição do ar.
No mês passado, a diretora-executiva do Fundo para o Ar Limpo, Jane Burston, afirmou que “as crianças de Londres têm 4,2% mais probabilidades de internação por asma nos dias em que a contaminação por dióxido de nitrogênio é alta”.
O prefeito de Londres, o trabalhista Sadiq Khan, afirmou no mês passado que a qualidade do ar melhorou desde 2016, de acordo com dados oficiais.
E destacou as medidas adotadas desde sua eleição, incluindo a introdução no ano passado de uma “zona de emissões ultra baixas” (ULEZ), que exige que os motoristas dos veículos mais poluentes paguem um imposto diário para circular pelo centro da cidade.