Da janela de seu escritório, no 8º andar de um edifício comercial de alto padrão,localizado na avenida Juscelino Kubitschek, na zona Sul de São Paulo, o executivo de origem espanhola Jaime Anchustegui contempla um desafio que vai além das fronteiras brasileiras. Ele comanda a divisão da América Latina da seguradora austro-italiana Generali, fundada em 1831, em Trieste. Sua tarefa é aumentar a participação dos resultados de países como Brasil, Panamá, Equador, Colômbia, Argentina e Guatemala no faturamento global, além de implantar as operações no México.

A receita desses países corresponde a 2% do total arrecadado anualmente pela quase bicentenária companhia e a meta é mais do que duplicá-la, para 5%, em cinco anos. O percentual pode ser pequeno, mas as cifras envolvidas são elevadas. Entre janeiro e setembro do ano passado, a Generali faturou € 35,7 bilhões (o equivalente a US$ 40,59 bilhões, na cotação atual) líquidos de comissões, alta de 9,6% em relação ao mesmo período de 2913. Portanto, a fatia latino-americana, hoje em US$ 811,8 milhões, poderá chegar a US$ 2,02 bilhões, montante nada desprezível.

“Vamos cumprir a meta com crescimento orgânico e inorgânico”, afirma Anchustegui. Por que apostar na América Latina, quando várias economias importantes não vão bem? A resposta é simples: outras regiões do globo, antes prioritárias, perderam atratividade. “Passamos uma década investindo nos países do antigo bloco soviético”, afirma o executivo. “Mas agora vemos oportunidades aqui e queremos investir muito, podem ser € 100 milhões ou € 1 bilhão, mas precisa ser algo grande e com a rentabilidade adequada.” O crescimento na América Latina será baseado em grandes riscos e no seguro-desemprego. 

Segundo Hyung Mo Sung, presidente da seguradora no Brasil, a meta é que o País represente 40% do faturamento da região até 2020. O interesse não é só da Generali. Executivos de companhias brasileiras também reservaram um espaço na agenda para aprimorar o espanhol. No início de dezembro, a paranaense J Malucelli passou a oferecer seguro-garantia na Colômbia. Alexandre Malucelli, presidente da holding que administra a companhia, afirma que o primeiro mercado visado era o argentino, porém, por causa dos problemas políticos e econômicos dos últimos dois anos, o colombiano passou na frente na fila.

“A Argentina permanece sendo um mercado interessante, apesar de todos os problemas, por isso vamos esperar o fim do período eleitoral para revisarmos nossos planos de entrar lá”, diz ele. “Por enquanto, a Colômbia, que tem o terceiro maior potencial da região nos seguros garantia para execução de obras, é um mercado mais promissor.” A J Malucelli conta com R$ 1 bilhão em caixa após vender 49% de sua participação para o grupo americano Travelers em 2010. Esse dinheiro será destinado a investimentos. “Já nos preparamos para iniciar as operações no Peru, em 2016, um outro país com grande potencial na área de seguros.”

Mas há outros destinos na mira do grupo paranaense. A J Malucelli já encaminhou pedidos de autorização para operar na Argentina, Panamá, Equador, Chile, Peru e Bolívia. “Temos cadastros como seguradora em mais seis países, além do Brasil, e pretendemos expandir nossas operações nos próximos anos, em seguro-garantia e em resseguros”, diz Malucelli. Em 2014, no acumulado até outubro, a empresa emitiu R$ 313,8 milhões em prêmios e sua área de resseguros, mais R$ 225,8 milhões. Outra empresa que desembarcou em solo colombiano foi a paulista Terra Brasis, que recebeu autorização para atuar como resseguradora, no dia 5 de janeiro.

Rodrigo Botti, diretor de finanças da companhia, diz que o objetivo, por enquanto, e ganhar familiaridade com o mercado local de resseguros, que movimenta o equivalente a US$ 400 milhões por ano. “Não estamos preocupados com quantidade agora, nossos objetivos são aprender e construir relacionamentos”, diz Botti. A empresa emitiu R$ 78 milhões em prêmios de resseguros no Brasil, no ano passado. Agora, além da Colômbia, a Terra Brasis, se prepara para aumentar sua participação no Peru, onde conta com uma operação em atividade, há seis meses, e está prestes a fechar sua primeira apólice. “Apesar de muitas companhias internacionais operarem na nossa região, creio que nosso diferencial está no conhecimento desses países”, diz Botti. “Somos muitos semelhantes em vários aspectos.”