São sistemáticos os desatinos praticados no âmbito do Mercosul. A aprovação afobada do ingresso da Venezuela no bloco foi apenas mais um desses equívocos que, certamente, irão gerar problemas de toda ordem lá na frente. Aliás, já está prestes a provocar um possível racha entre parceiros com a posição firme e revoltada do Uruguai de se afastar, caso o acordo vá adiante. E com a insatisfação já mostrada pelo Paraguai, surrupiado no seu direito de opinar sobre o ingresso do país rival. Não dá para negar a força econômica e as vantagens comerciais que vêm a tiracolo da estreante Venezuela. Mas a capacidade de criação de quizumbas políticas, sob o mando de Hugo Chávez, pode trazer mais prejuízos que lucro à comunidade. 

 

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Diplomatas brasileiros como o ex-embaixador Rubens Barbosa preveem um futuro negro para o mercado comum nessa escalada. Barbosa aponta que pessoas como Chávez poderão estimular ainda mais incertezas ao Mercosul. Diz ele que mesmo a presidenta Cristina Kirchner, com a sua atual postura, tem chances de acabar definitivamente com o bloco. Além de não cumprir contratos, escamotear a real situação das contas públicas internas e bradar vendetas protecionistas, Kirchner deu agora de flertar com a ideia de uma espécie de zona franca para exportações chinesas, que aproveitariam o corredor argentino e assim ingressariam livremente no crescente mercado brasileiro. Esse livre comércio chinês-argentino colocaria a perder a balança comercial de produtos nacionais na região, dada a prática de dumping normalmente exercida com preços bem abaixo dos verificados nas mercadorias brasileiras. 

 

Seria um novo desatino aceitar esse esquema no eixo sul-americano. O que assusta ainda mais, e tem gerado grande incômodo entre empresários locais, é a posição cordata do Brasil diante dessas movimentações. O governo Dilma cogita até mesmo reduzir o superávit no comércio bilateral com o vizinho para ajudá-lo a superar a crise econômica. O presente seria da ordem de R$ 2 bilhões. Esbanjar concessões enquanto o mundo enfrenta uma hecatombe financeira e o parque industrial brasileiro peleja para voltar ao crescimento deveria ser algo no plano do impensável. Mas, pelo que revelam alguns próximos assessores, está lamentavelmente na mesa de negociações do Planalto.