NEM OS MUSEUS PODEM escapar da globalização. O Louvre, um dos mais famosos do mundo, que o diga. A instituição, vista como um ícone do mundo da arte, está se tornando uma marca global com fins lucrativos. Bota lucrativos nisso! Desde 2001, quando Henri Loyrette assumiu a direção do museu, o Louvre se tornou uma máquina de fazer dinheiro. Além de organizar exposições itinerantes em países como Japão e Estados Unidos, o que tem engordado o caixa, o Louvre assinou um acordo para criar uma filial em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes. ?Não se trata de um outro Louvre, mas de um museu que usa o nome do Louvre e que apresentará coleções francesas de vários museus sob a forma de exposições?, explica Aggy Lerolle, diretora de comunicação do museu. Pode ser, mas quem está ganhando com isso é o Louvre. Só o acordo assinado com o governo de Abu Dhabi, renderá US$ 900 milhões. Mais: o Louvre assinou um tratado com o High Museum, de Atlanta, pelo qual emprestará obras de seu acervo e receberá US$ 18 milhões durante três anos e, nos últimos anos, passou a organizar jantares para levantar fundos. Traduzindo: o fundo para novas aquisições saltou de US$ 4,5 milhões, em 2004, para US$ 36 milhões em 2007. O que em qualquer país capitalista poderia ser considerado uma ótima estratégia tem sido visto com desconfiança pelos franceses.

HENRI LOYRETTE: diretor do museu fechou acordo com o governo de Abu Dhabi para criar uma franquia nos Emirados Árabes. O negócio renderá US$ 900 milhões

Mais do que um museu, o Louvre é motivo de orgulho para os franceses. Ver o museu angariando fundos de todos os lados é, praticamente, um sacrilégio para muitos. Afinal, o museu já recebe US$ 180 milhões do governo francês e, em tese, não precisaria de mais. Marc Fumaroli, presidente da Sociedade de Amigos do Louvre, uma entidade francesa que ajuda nas aquisições do museu, faz parte da turma que critica Loyrette. Fumaroli se preocupa com o modo pelo qual o museu está exportando seus tesouros e também com a escolha de obras que estão sendo adquiridas pelo museu ? em especial o belga Jan Fabre, que em exibição recente colocou a escultura de uma minhoca gigante entre os quadros de arte flamenga e holandesa.
A intenção da exposição era dar uma nova perspectiva a trabalhos antigos. ?Em uma casa como esta, é necessário abrir as janelas. Há muito tempo que não vemos o Louvre arejado?, disse Loyrette em entrevista à revista Time. Os novos ares, ao que tudo indica, se mostram favoráveis à visitação. De 2001 até hoje, o número de pessoas que visitaram o museu cresceu 60%, chegando a 8,5 milhões de visitantes por ano. ?Ao globalizar-se o Louvre não perde em nada?, aponta João Castanho, da consultoria Thymus. ?Para os tradicionalistas, tornar o museu mais popular pode até ser uma ofensa, mas também pode ser visto como uma forma de tornar a arte mais popular.