09/03/2023 - 21:22
Sócio da Tendências Consultoria Integrada e ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Loyola, disse nesta quinta-feira, 9, que, a despeito dos ataques que vem recebendo da ala política do governo, o Banco Central está sendo capaz de manter a política monetária dentro do que é recomendado do ponto de vista técnico.
Loyola é um dos convidados do “Toro Talks: desafios de um novo Brasil”, evento anual organizado pela Toro Investimentos.
De acordo com Loyola, o BC continua independente mesmo sob os fortes ataques que vem recebendo. “Mas o BC está, evidentemente em um cenário mais difícil, em que a política monetária vai ter que remar contra uma expansão fiscal e contra esse jogo político que aumenta a volatilidade, reduz a credibilidade do BC no curto prazo e dificulta a reancoragem das expectativas”, disse o ex-BC.
Do ponto de vista da economia real, Loyola disse que a economia já está refletindo os impactos do aperto monetário. Por isso o crescimento vai ser fraco. A Tendências, de acordo com Loyola, prevê um crescimento de apenas 0,9%.
Mas, de acordo com ele, se o arcabouço fiscal for razoável e o governo fizer um ajuste também pelo lado das receitas, o BC poderá começar a reduzir a taxa de juro por volta de setembro. “Mas será uma queda moderada, com a Selic podendo fechar o ano em torno de 13%, 12,5%, e o crescimento do PIB em torno de 0,9%”, reforçou o economista.
Lula 3
Loyola disse que sua visão sobre o eu está ocorrendo neste começo de governo é ainda de muita incerteza. Para ele, há ainda muitas coisas sendo definidas.
“Do ponto de vista econômico, claramente o governo Lula não é o Lula 1 e 2 e claramente não é o Dilma 1 e o Dilma 2. Vamos esperar o que está sendo desenhado na medida em que os dias forem passando”, disse o ex-BC.
Segundo Loyola, o Brasil deverá ter uma política econômica razoável do ponto de vista fiscal. “Razoável no sentido de que não vamos ter um descontrole fiscal”, afirmou, acrescentando que a Tendências espera para este ano um déficit fiscal na ordem de 1,7% do PIB, o que não é nenhum desastre.
Câmbio
Ao discorrer sobre sua visão em torno da política cambial, o ex-presidente do Banco Central (BC) disse que o real está muito desvalorizado. Para Loyola, o real deveria estar valendo mais.
“Mesmo que situação da economia americana leve o Fed um pouco além na questão de juro, a 5,75% ou algo assim, o nosso real pode resistir desde que a gente tenha um cenário interno com menos incertezas. Isso pode acontecer de maneira que não haja um descolamento muito grande da taxa de câmbio do seu atual nível”, disse.
Ele não descarta, porém, a ocorrência de turbulências no mercado de câmbio pela frente, mas adianta que os modelos usados pela Tendências projetam uma taxa de câmbio nos atuais patamares, em termos médios, ao longo do ano.