26/10/2020 - 14:13
Boas notícias para os astronautas: há mais água do que se acreditava na Lua, presa em forma de gelo em uma infinidade de microcrateras, um recurso potencial para futuras missões espaciais, segundo dois estudos publicados nesta segunda-feira (26).
Por muito tempo acreditou-se que a Lua era um astro muito árido, mas em 2008 pesquisadores descobriram moléculas de água dentro do magma trazido por astronautas das missões Apolo.
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É água gelada, presa no fundo de grandes crateras que ficam continuamente na escuridão, perto dos polos, onde as temperaturas são extremamente baixas.
Um estudo publicado na Nature Astronomy revela a existência de uma multidão de microcrateras com água gelada no fundo. São chamadas de “armadilhas frias”.
“Imagine-se na Lua, perto de um de seus polos: você veria uma miríade de pequenas sombras que preenchem a superfície; a maioria delas são menores do que uma moeda. Cada uma seria extremamente fria, o suficiente para conter gelo”, descreve Paul Hayne, do departamento de astrofísica da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.
Sua equipe usou dados de dois instrumentos do orbitador de reconhecimento lunar da NASA, LRO. Combinando essas medidas com modelos 3D, eles conseguiram reproduzir o tamanho e a distribuição das sombras, em escalas menores que um milímetro.
Haveria ali a mesma temperatura das grandes crateras: cerca de -160 °C. Mas há muito mais: “há dezenas de bilhões deles, enquanto os maiores são algumas centenas”, detalha Paul Hayne.
De modo que a superfície total de água na Lua cobriria 40.000 km2, dos quais 60% seriam no polo Sul, “o que sugere que a água está mais espalhada na Lua do que se acreditava”, explica à AFP este pesquisador.
– Asteroides –
Outro estudo, também publicado na Nature Astronomy, fornece a prova química de que se trata de água molecular.
O telescópio aerotransportado do Observatório Estratosférico para Astronomia Infravermelha (SOFIA) proporcionou novos dados, graças à observação da Lua em um comprimento de onda mais preciso do que antes: 6 mícrons em vez de 3. E, pela primeira vez, os pesquisadores puderam diferenciar a molécula H2O (a fórmula química da água) de outro composto químico (hidroxila, OH) com o qual ela aparece misturada.
De onde vem essa água? Provavelmente da queda de asteroides que colidiram com a Lua há bilhões de anos. O mesmo que se acredita ter acontecido com a Terra. As moléculas de água expulsas durante a queda desses corpos teriam caído no fundo dessas crateras, onde ficaram “presas para sempre” pelo frio, explica Francis Rocard, especialista em sistema solar do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES).
Se as técnicas de extração forem desenvolvidas, isso representará um recurso potencial para futuras missões espaciais, principalmente a futura mini-estação Lunar Gateway.
Para futuras missões tripuladas a Marte, por exemplo, seria possível “decolar da Terra, fazer uma parada na ‘estação de serviço’ que será a Lunar Gateway, de onde se enviariam sondas à superfície lunar para coletar água e assim abastecer a tripulação que faz a viagem a Marte”, acrescenta Francis Rocard, que não participou dos estudos.
“Isso reduziria o custo do programa, porque é mais barato do que levar água da superfície da Terra”, explica o astrofísico francês, destacando que a viagem para Marte dura seis meses.