29/06/2011 - 21:00
Há muitos motivos pelos quais o rapper americano 50 Cent, nome artístico de Curtis James Jackson III, é conhecido. Sua música. Os filmes em que atuou. A biografia conturbada – ele começou a traficar drogas aos 12 anos, passou algum tempo na prisão e, depois de sair, sobreviveu a uma briga na qual levou vários tiros. Não por acaso, a página de 50 Cent no Twitter é uma da mais lidas da rede, com mais de 4,7 milhões de seguidores.
@50cent, rapper, ator e investidor
No dia 11 de janeiro, 50 Cent publicou um comentário recomendando a compra de ações da empresa H&H Imports, da qual possui 12,9% do capital. O barulho no mercado foi comparável ao de suas apresentações. As ações subiram de 10 para 39 centavos de dólar naquele dia, uma alta de quase 300%, e garantiram ao rapper um lucro estimado em US$ 8,7 milhões. Mais do que uma curiosidade, o incidente mostra como as mídias sociais têm poder de influenciar o mercado, e o investidor pode ganhar algum dinheiro com isso, desde que conheça bem como essas mídias funcionam e esteja disposto a correr os riscos desse empreendimento.
@DerwentCapital, a gestora lançou fundo baseado no Twitter
Fenômenos como o provocado pelo comentário de 50 Cent estimularam a gestora de investimentos inglesa Derwent Capital Markets, de Londres, a montar um fundo de ações que compra e vende papéis com base nos comentários postados no Twitter. Segundo Paul Hawtin, co-fundador da gestora, o fundo baseia-se em um programa que começou a ser desenvolvido, em 2009, por dois pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Percebendo a relação entre o “estado de espírito” das pessoas e a pontuação dos mercados financeiros, os pesquisadores Johan Bollen e Huina Mao decidiram provar que era possível prever o que aconteceria com o índice Dow Jones, um dos mais importantes no sistema financeiro mundial, a partir dos comentários de 140 caracteres que milhões de usuários espalhados pelo mundo escrevem diariamente.
Ao acompanhar a enxurrada de frases e estabelecer suas correlações com as decisões de compra e de venda, a dupla conseguiu prever o movimento nos pregões com uma margem de acerto de 87,6%.“O sistema tem a capacidade de transformar em números o sentimento de pessoas sobre a economia e sobre suas próprias finanças no dia a dia”, disse Hawtin, em uma entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Pessoas nervosas e preocupadas não aplicam seu dinheiro em bolsa, e se eles estão propensos a vender, o mercado vai cair e podemos antecipar essa baixa”, diz.
@FabioCipriani, consultor
O objetivo dos gestores é usar essa nova ferramenta tecnológica para prever o movimento do mercado como um todo, e não apenas a perspectiva para uma ação específica. O fundo fica aberto para captação até o final de junho e pode arrecadar mais de 30 milhões de libras, que serão investidas apenas em papéis de empresas inglesas. As ferramentas das redes sociais disponíveis para o investidor brasileiro ainda não são tão sofisticadas, mas isso não quer dizer que não compensa lançar-se na rede. “As empresas brasileiras estão um pouco defasadas em relação às americanas no uso de novas tecnologias, por isso é que só agora estamos vendo iniciativas”, diz o engenheiro econsultor paulista Fabio Cipriani, autor do livro Estratégia em mídias sociais — como romper o paradoxo das redes sociais e tornar a concorrência irrelevante.
@AlvaroBandeira, diretor da corretora Ativa
Segundo Cipriani, as corretoras de valores e os bancos entenderam que era um bom negócio utilizar as redes sociais para aumentar o contato com os investidores. Em um mercado em que a atividade de comprar e vender ações está cada vez mais uniforme, ganha pontos com o cliente quem tiver o melhor relacionamento. Essa foi a estratégia da Ativa Corretora, do Rio de Janeiro, para iniciar sua participação nas redes sociais. Nossos clientes têm entre 25 e 35 anos, e são ativos nas redes sociais”, diz Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ativa. “Esses sites trazem participantes ainda mais novos e permitem que nos aproximemos dos investidores e clientes do futuro.”
A Ativa já tem suas comunidades nas redes sociais e lançou, há pouco mais de um mês, uma área em seu site que une todas as atualizações nas redes em um único espaço. A Ativa associou-se a uma concorrente, a corretora inglesa Icap, para lançar um simulador de mercado financeiro chamado Dosh – gíria britânica para dinheiro – que roda dentro do Facebook. Os participantes entram na rede social e podem comprar e vender ações com dinheiro virtual, seguindo oscilações reais de preços. O internauta que se cadastrarno Dosh pode simular aplicações na Bolsa de São Paulo, na Bolsa de Nova York e, para quem só pode navegar de madrugada, no mercado japonês.“Quando os mais jovens começarem a investir, eles não vão querer fazer nada tradicional”, diz Paulo Levy, diretor responsável pelo home broker MyCAP. “Serão investidores mais dinâmicos e o jogo os prepara para isso.”
@PauloLevy, diretor do home broker MyCAP
O sucesso do Dosh já é visível: 35 mil pessoas se cadastraram em apenas três meses. “Investir em ações é um ato social, e foi natural trazer isso para o Facebook”, diz André Fonseca, sócio da ZukFab, empresa que idealizou e desenvolveu o jogo.Outra iniciativa dentro do Facebook passa dos limites da brincadeira. A corretora paulista Spinelli lançou no fim de maio o FaceBroker investBolsa, um aplicativo que funciona como homebroker dentro do próprio site. “Sem instalar um novo programa, é possível acompanhar ativos em tempo real e fazer ordens de compra e venda”, diz Rodrigo Puga, responsável pelo homebroker da Spinelli.
@RodrigoPuga, diretor do homebroker da Corretora Spinelli
Todas essas ferramentas têm riscos e devem ser usadas com parcimônia. Os usuários do aplicativo da Spinelli vão comprar e vender ações usando dinheiro de verdade, aquele que os crackers (não confundir com os hackers) adoram desviar para suas contas-correntes. Então, apesar do ambiente informal, valem as mesmas precauções para as transações bancárias via internet. Os simuladores usam dinheiro virtual, mas as informações são verdadeiras e podem provocar muitos prejuízos se forem pirateadas. No caso do homebroker via Facebook, a preocupação é com a segurança dos dados.
Além disso, quando surgir a tentação de especular com a próxima dica do 50 Cent, lembre–se de que muitas das informações da internet não são confiáveis. “O importante é saber selecionar o que se lê nas redes sociais e entender que aquilo é o princípio de uma orientação, não uma recomendação de investimento”, afirma o educador financeiro (e tuiteiro) Reinaldo Domingos, do Instituto DSOP, de São Paulo.